Pepe Brix, fotógrafo documental português, é o autor desta última história de “No Centro do Mundo Cervejeiro”

en·sai·o | s. m. Ato de ensaiar. Prova, experiência. Exercício para adestrar. Primeira prova de alguma coisa; tentativa.
Fonte: https://www.priberam.pt/dlpo/ensaio

Acordamos e ensaiamos. Ensaiamos o tempo e o silêncio, ensaiamos o jeito com que curamos o que sentimos e a melhor forma de processarmos as mensagens que nos vão chegando. Ensaiamos a matéria e a vida que desperta à nossa volta. Ensaiamos a nossa sede de conhecimento para percebermos que não é saciável. Ensaiamos porque é preciso. Porque quando o fazemos crescemos, e descobrimos mais um fragmento do nosso caminho. Ensaiamos sempre, porque a história nos mostra que os maiores feitos da humanidade começaram num ensaio, e que o polimento de cada recém-descoberta tem a sua continuidade no ato de ensaiar tudo novamente.

Essa sede de descoberta é a musa dos que se desafiam na “instalação piloto”, que está ao lado do laboratório de qualidade. Claro, ao lado do laboratório de qualidade.

Na instalação piloto, ou sala de ensaios, alia-se a diversão e a intrepidez de experimentar, à necessidade de preencher a perene renovação do desejo do consumidor. Este é o espaço onde se procura retirar o melhor dos colaboradores, abrindo-lhes caminho à criatividade e dando-lhes a oportunidade de se manterem mais próximos do processo de criação de uma cerveja, e dos seus colegas de trabalho. É o espaço ideal para desenvolver atividades de “team building” e explorar novos sabores e aromas.

Justamente de ensaios, de muitos ensaios, nasceu o requintado rol de cervejas que hoje se produz na Cervejeira de Vialonga. Para garantir que ao longo do processo nada interfere com a aparência e o sabor único de cada receita, alguns parâmetros mantêm-se em permanente vigilância. Enquanto as cervejas correm as veias da cervejeira, aqui e ali vão sendo colhidas amostras e trazidas para os laboratórios de físico-química e de microbiologia. Entre balões de fundo plano, pipetas, ampolas e tubos de ensaio, e os graciosos raios de luz natural que invadem o laboratório, Maria Tomás faz uma análise meticulosa à matéria prima e às amostras de cerveja que acabam de chegar. Enquanto verifica se a cor, a densidade, o pH, o álcool e a turvação estão dentro dos valores parametrizados. Jaime verifica os níveis de CO2 (dióxido de carbono) e de amargor das amostras.

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Entretanto, ao laboratório de microbiologia chegam amostras de levedura que serão submetidas a análises para verificação da sua viabilidade e população.

Durante o processo são várias as ocorrências que podem culminar no surgimento de aromas ou paladares indesejados, conhecidos na gíria como os “Off-Flavors”, muitas vezes imperceptíveis à maioria dos consumidores. A precisão de cada receita é de tal forma fina, que para a identificação dos possíveis “Off-Flavors” a cervejeira está aprovisionada de um painel de experientes provadores. Sílvia é quem está responsável pelas análises sensoriais que decorrem na sala de provas. Num conjunto de amostras são introduzidos determinados “Off-Flavors” para que o painel de provadores possa identificar quais estão presentes em cada amostra. A regularidade destes eventos servem para que os provadores mantenham os seus sentidos apurados, e a lista de Off-Flavors sempre presentes nas suas memórias sensoriais.

Da recepção da cevada ao momento que antecede a distribuição dos produtos da cervejeira de Vialonga, há uma equipa especializada, equipada com tecnologia de ponta, que desempenha um papel fundamental no controlo de qualidade. Uma equipa que garante que todas as cervejas ali produzidas chegam   ao consumidor nas melhores condições possíveis. Uma equipa que garante que nenhum dos ensaios realizados, até se chegar à primazia das receitas que hoje se traduzem nas cervejas que conhecemos, aconteceram em vão.

No Centro do Mundo Cervejeiro

Descortinando cada cerveja

Encontrar a supermacia do malte

Aprumando o amargor do lúpulo

Guardar a vitalidade de um superalimento