A estreia na Broadway estava prevista para dezembro, mas havia quem já estivesse a contar os meses para ver o emblemático romance de Harper Lee, “Mataram a Cotovia”, adaptado a teatro pelo produtor Scott Rudin (que trabalhou em “Lady Bird”, “Vedações”, “Grand Budapest Hotel”, “Moonrise Kingdom”, “As Horas”, “Este País Não é Para Velhos” e “Haverá Sangue”) e pelo argumentista Aaron Sorkin, vencedor de um Óscar de Melhor Argumento Adaptado (com o filme “A Rede Social”) e guionista de “Jogo da Alta-Roda”, “The Newsroom” e “Moneyball — Jogada de Risco”.

O projeto da prestigiada dupla de Hollywood (produzido em colaboração com o Lincoln Center Theater) sofreu um revés esta terça-feira, quando uma queixa submetida pelos detentores dos direitos da obra de Harper Lee deu entrada no tribunal federal de Alabama, Estados Unidos da América. O motivo? As liberdades tomadas pela dupla na adaptação do romance, que, na opinião dos detentores dos direitos de “Mataram a Cotovia”, fariam com que a peça divergisse em demasia da obra original.

Nos anos 1960, o romance de Harper Lee inspirou um filme de grande sucesso do realizador Robert Mulligan:

Os representantes legais da escritora norte-americana socorrem-se do contrato assinado oito meses antes da morte da autora (ocorrida em fevereiro de 2016), no qual os responsáveis pela adaptação teatral comprometiam-se a “não romper nem afastar-se de maneira alguma do espírito do romance” e a “não alterar as suas personagens”. Acontece que uma dessas personagens, Atticus Finch, ganharia uma nova identidade na versão teatral, muito diferente do papel que desempenha no romance, o de advogado que defende um homem negro injustamente acusado de rapto.

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Não posso nem vou apresentar uma peça que pareça ter sido escrita no ano em que o livro foi escrito, no que respeita ao contexto de políticas raciais. Isso não teria interesse algum, o mundo mudou desde esse tempo”, chegou a apontar o produtor da peça, Scott Rudin, numa entrevista, citada pelo The New York Times.

Na queixa, a que o The New York Times teve acesso, é referido que a advogada eleita por Harper Lee para gerir o seu espólio, Tonja B. Carter, expressou “sérias preocupações sobre o guião” a Rudin, num dos primeiros encontros que tiveram depois da assinatura do acordo para a adaptação do romance ao teatro. “Em alguns momentos, a conversa ficou acalorada”,  mas a reunião teve um final inconclusivo. A dificuldade das duas partes em chegar a acordo deu agora origem a uma queixa, ficando o tribunal de Alabama responsável por decidir se o contrato permanece válido face aos argumentos de cada lado.

“Lady Bird” foi um dos últimos filmes produzidos por Scott Rudin, que trabalha agora na adaptação de “Mataram a Cotovia” a teatro, até ordem em contrário.

Para já, os responsáveis pela transposição do romance canónico de Harper Lee para o teatro defendem-se, dizendo que o argumento de Sorkin “é uma adaptação fiel de um romance singular” e que este foi “construído bem dentro das balizas e restrições impostas pelo acordo escrito”. Além disso, acrescentam, é à equipa de produção da peça que cabe a avaliação final sobre a fiabilidade da adaptação da obra.