Luísa Botelho, mulher de Luís Botelho — pai da menina que na sequência do primeiro episódio de SuperNanny ficaria conhecida como “Furacão Margarida” — declarou esta sexta-feira no Tribunal Judicial de Oeiras que tanto ela como o marido contactaram a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CPCJ) local antes de o primeiro programa ser emitido. Mais: apresentaram queixa na ERC e, segundo a própria Margarida, um membro da produção do reality show instigou a menina de 7 anos a ter determinados comportamentos. 

O pai da menina, disse a testemunha chamada pelo seu representante legal, dirigiu-se à SIC na sequência dos spots promocionais que foram sendo exibidos, antecedentes à emissão do primeiro programa, e aí solicitou o visionamento do programa. O pedido foi recusado e, diz a testemunha, o pai chegou a ser ameaçado com um processo.

De acordo com o testemunho de Luísa Botelho, que o advogado da Warner TV Portugal disse ser atentatório ao bom nome da produtora, um membro da equipa da produção do programa instigou a menina de 7 anos a exagerar determinados comportamentos — a testemunha deu como exemplo as cenas em que Margarida cospe para a mesa, bate na mesa com força e chama a mãe de “estúpida”. O membro da produção em causa foi identificado enquanto um dos operadores de câmara do programa.

Tanto a SIC como a Warner TV. Portugal pediram ao tribunal que o membro da produção em causa fosse identificado e que o seu depoimento fosse aceite — a decisão sobre este requerimento só será conhecida durante a tarde, altura em que Teresa Paula Marques vai ser ouvida em tribunal.

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Luísa Botelho, madrasta de Margarida, disse ainda em tribunal que a menina chorou após visualizar o programa e considerou que este não acrescentou nada à menina e que a deixou mais insegura. A SIC contestou este testemunho, alegando “contradições manifestas”.

Arquivado processo de promoção e proteção da família do terceiro episódio

Na terceira audiência que leva o programa SuperNanny a tribunal (a decorrer esta sexta-feira no Tribunal Judicial de Oeiras), foi esclarecido que o processo de promoção e proteção de uma das famílias visadas, que decorreu no Tribunal de Menores de Mafra, foi arquivado. O caso está relacionado com a família do terceiro episódio, que não chegou a ser emitido pela SIC. 

Esta sexta-feira a SIC requereu a junção dos resultados dos processos de promoção e proteção a que duas famílias envolvidas nos primeiros programas foram sujeitas — as famílias em causa não aceitaram a intervenção da CPCJ local, pelo que o processo remeteu para os tribunais de menores de Sintra e de Mafra.

O Ministério Público alegou ainda que o terceiro episódio do programa SuperNanny — emitido à porta fechada na audiência do dia 2 de março, na sequência da ação especial de tutela da personalidade instaurada pelo MP, em representação dos seis menores visados nos episódios, contra a SIC, a produtora Warner TV. Portugal e os pais das criança— não correspondia ao episódio preparado para ser difundido a 28 de janeiro. A alegação foi feita tendo em conta “deficiências técnicas”. A requerida SIC contestou a alegação do MP e apresentou um ficheiro de substituição do mesmo episódio.

“Há menos mau comportamento na versão portuguesa”

Edward James Levan, vice-presidente na Warner Bros., que entre outras funções supervisiona a introdução de formatos televisivos a nível internacional, disse em tribunal que na versão portuguesa há “menos mau comportamento” e reiterou que o programa não foi suspenso por nenhum tribunal nos países onde já foi e é emitido.

“O formato da SuperNanny quer curar famílias típicas, ensinar técnicas que possam ajudar as famílias a curar-se”, disse durante a intervenção, acrescentando que “o programa é muito claro em mostrar que as crianças não têm culpa”.

Levan afirmou ainda que o programa SuperNanny não adota um formato de reality show e que pretende apenas mostrar a realidade tal como ela é. Esta sexta-feira vão ser ouvidas as testemunhas chamadas pela SIC e Warner TV. Portugal, incluindo a apresentadora e psicóloga Teresa Paula Marques.