O monsenhor José Avelino Bettencourt — sacerdote português que o papa Francisco escolheu para ser o futuro embaixador da Santa Sé na Arménia e na Geórgia — vai ser ordenado arcebispo esta segunda-feira na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

A ordenação episcopal é acompanhada da elevação ao posto diplomático de Núncio Apostólico, a designação atribuída aos embaixadores da Santa Sé. Bettencourt vai receber a ordenação episcopal pelas mãos do próprio papa Francisco.

Desde 2012, José Avelino Bettencourt é o chefe de protocolo do Vaticano, responsável pelo acolhimento dos chefes de Estado e de Governo estrangeiros que se deslocam a Roma para se encontrar com o Papa. Nascido em 1962 na ilha de São Jorge, nos Açores, Bettencourt mudou-se para o Canadá com a família. Foi lá que fez toda a sua formação teológica e que foi ordenado padre em 1993.

Padre português vai ser embaixador do Vaticano na Arménia

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Depois de ter passado por duas paróquias canadianas (incluindo uma comunidade de emigrantes portugueses), José Bettencourt entrou no serviço diplomático do Vaticano em 1999. Fez o doutoramento em Direito Canónico em Roma e começou a sua carreira diplomática na Nunciatura Apostólica no Congo, como conselheiro de nunciatura. Regressou a Roma em 2003 para ser nomeado monsenhor e assumir funções como capelão do Papa.

Em 2012, o papa Bento XVI nomeou-o chefe de protocolo da Santa Sé, cargo em que ainda se mantém. Atualmente, é responsável pela preparação das visitas oficiais do Papa e pelo acolhimento de chefes de Estado estrangeiros no Vaticano.

Apesar de ter chegado aos mais altos postos da diplomacia da Cúria Romana, José Avelino Bettencourt nunca escondeu o seu desejo de ser apenas um “simples padre”. Em 2013, Cavaco Silva condecorou-o com a Ordem Militar de Cristo, pela sua “competência, lealdade e dedicação”.

Quando a nomeação como embaixador na Arménia e na Geórgia foi tornada pública, José Avelino Bettencourt sublinhou, ao Observador, que, na doutrina, “a Igreja Católica e a Igreja Arménia não têm diferenças”. “A Arménia é a nação cristã mais antiga, tanto que o patriarca de lá não é da Igreja Ortodoxa, mas sim da Igreja Arménia Apostólica”, explicou o recém-nomeado Núncio Apostólico.

José Bettencourt, o português que só queria ser um simples padre e que o Papa nomeou embaixador

Sublinhando que vai para “uma nação com uma história muito bonita“, José Avelino Bettencourt destacou a ligação entre o povo português e o povo arménio. “Basta pensar em Calouste Gulbenkian“, exemplificava, referindo-se ao empresário arménio que se radicou em Portugal, tendo dado um importante contributo à cultura portuguesa, ao deixar o seu grande espólio na fundação que criou com o seu nome em Lisboa.

Bettencourt destacou ainda que a Arménia é “uma região de ponte” entre o Ocidente e o Oriente, onde vive “um povo que tem sofrido”. “O Papa esteve lá em 2016, ele mesmo quis ir visitar o país, o que é um sinal de proximidade entre a Igreja e aquele país, que tem uma comunidade católica pequena”, sublinhou o recém-nomeado arcebispo, dizendo-se “muito honrado por ir para um lugar a que o Papa está atento”.

O principal desafio, garantia, será “representar o Santo Padre num contexto que tem uma dimensão ecuménica muito interessante, estando perto da pequena comunidade católica”.

José Bettencourt é o segundo português a chegar ao mais alto nível da diplomacia vaticana, depois do cardeal Manuel Monteiro de Castro, que exerceu funções em Antígua e Barbuda, El Salvador, Honduras, África do Sul, Lesoto e Espanha.

A celebração da ordenação, presidida pelo Papa, começa às 17h de Roma, 16h em Lisboa, e pode ser vista em direto aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=f13fSEoBVS0