Christine Lagarde está na Argentina, onde decorre um encontro do G20, e numa entrevista ao jornal El País mostrou preocupação pela possibilidade de as medidas anunciadas por Donald Trump de taxar as importações de aço (25%) e alumínio (10%) poderem resultar numa guerra comercial.
Espero que não estejamos a embarcar num caminho de guerra [comercial]. Isso ia ser muito prejudicial para os resultados positivos que temos visto ultimamente no comércio, como o crescimento, a inovação e a melhoria da qualidade de vida de muitas pessoas”
Recorde-se que a decisão do presidente norte-americano gerou reações quase imediatas, incluindo da Europa, que pela voz do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ameaçou “colocar tarifas sobre a Harley-Davidson, Levi’s e bourbon”.
A diretora-geral do FMI considera que “as guerras comercias são jogos que não se podem ganhar”, pois “se há menos crescimento, menos inovação e maior custo de vida, as primeiros a perder são os pobres, os menos privilegiados”. Christine Lagarde disse que a solução para este problema parte dos próprios países envolvidos e não de qualquer organismo, seja ele o FMI, o G20 ou a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Têm que ser os países [a resolver a situação], com consenso. Todos eles são membros do FMI, da OMC, da ONU. Nós apenas podemos ser o fórum onde eles arranjam uma solução. Depende da vontade política”
Esta ideia de que as guerras comerciais são prejudiciais para todos e não “coroam” nenhum vencedor é contrária àquela que Donald Trump sugeriu no Twitter no dia 2 de março, um dia depois de ter anunciado as polémicas medidas: “Quando um país (Estados Unidos) está a perder milhares de milhões de dólares no comércio com praticamente todos os países com quem faz negócios, as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar”
When a country (USA) is losing many billions of dollars on trade with virtually every country it does business with, trade wars are good, and easy to win. Example, when we are down $100 billion with a certain country and they get cute, don’t trade anymore-we win big. It’s easy!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) March 2, 2018
“Espero que todas as mulheres que sucedam a um homem insistam em ganhar o mesmo”
A diretora-geral do FMI abordou também o tema da desigualdade salarial entre homens e mulheres, dizendo que ganha o mesmo que os anteriores diretores do FMI e deixando um conselho a todas as mulheres:
Espero que todas as mulheres que sucedam [num cargo] a um homem insistam em ganhar o mesmo salário ou mais. A diferença salarial é de 16%, e em alguns países chega a 25%. Uma parte pode ser explicada porque fazem outros trabalhos, ou pela maternidade mas uma grande parte não tem explicação. E isso tem que acabar”
A primeira mulher a ocupar a liderança do FMI disse ainda que está contente no cargo e que não pensa em ser presidente de França ou governadora do Banco Central Europeu.