Um cientista russo citado esta terça-feira pela agência estatal Ria-Novosti disse que trabalhou no projeto de armas químicas “Novitchok”, implicado no envenenamento de Sergei Skripal, contrariando a posição de Moscovo de que este programa não existia. “Novitchok não é uma substância, é todo um sistema de armas químicas”, disse Leonid Rink, em entrevista à Ria-Novosti, que o apresenta como um dos criadores deste programa.

O agente neurotóxico Novitchok foi apontado por Londres como sendo a fonte do envenenamento do ex-agente duplo russo Sergei Skripal e da sua filha, no passado dia 4 de março, em Salisbury, no sul de Inglaterra. “Eles ainda estão vivos, o que significa que ou não era o sistema Novitchok ou estava preparado de forma errada”, disse Rink à Ria-Novosti.

A existência deste programa e a sua fórmula química foram reveladas pelo químico russo agora refugiado nos Estados Unidos Vil Mirzayanov, segundo o qual estes agentes de máxima eficácia foram desenvolvidos na década de 1980 por cientistas soviéticos. Após as acusações de Londres, Moscovo negou a existência de qualquer programa de desenvolvimento de armas químicas chamado “Novitchok”, tanto no tempo da URSS como na atual Rússia.

“Um grande grupo de especialistas estava a desenvolver o Novitchok em Moscovo e Chikhany: técnicos, toxicólogos, bioquímicos (…) Conseguimos um resultado muito bom”, afirmou Leonid Rink à Ria-Novosti. Segundo disse, durante o período soviético este sistema foi designado por “Novitchok-5”. “Este nome nunca foi usado sem o número que lhe estava associado”, acrescentou. Rink disse não acreditar que a Rússia esteja por trás do envenenamento de Sergei Skripal, hospitalizado em estado crítico, porque sabe que o uso deste agente neurotóxico pode ser rastreado.

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“Disparar num indivíduo, que não apresenta qualquer interesse, um míssil deste calibre e depois fazê-lo sem alcançar o objetivo é o auge da estupidez”, defendeu. De acordo com o químico, a tecnologia do projeto “Novitchok” é acessível “para qualquer estado desenvolvido” ou grande empresa farmacêutica. “Desenvolver essa arma não é problema”, considera.

Questionado esta terça-feira pela Agência France Presse sobre a entrevista publicada na agência estatal Ria-Novosti, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo manteve a sua posição: “Não havia qualquer programa de pesquisa e desenvolvimento sob o nome Novitchok”. O caso levou já a primeira-ministra britânica a anunciar no dia 14 a “suspensão de contactos bilaterais” com Moscovo e a expulsão de 23 diplomatas russos, aos quais foi dado o prazo de uma semana para deixarem o Reino Unido.

Depois disso, a Rússia reagiu e anunciou no dia 17 a expulsão de 23 diplomatas britânicos e o fim das atividades do British Council no país. Numa entrevista à BBC, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, disse no domingo que Londres tem “evidências” de que a Rússia “desenvolveu e armazenou” o Novichok, o agente neurotóxico usado para envenenar Sergei Skripal e a sua filha, Yulia.

Os chefes de diplomacia da União Europeia (UE) condenaram na segunda-feira o envenenamento do ex-espião russo e da sua filha e admitiram considerar altamente provável o envolvimento da Rússia, como defende o governo britânico. Em comunicado, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 28, reunidos em Bruxelas, consideraram que “a vida de muitos cidadãos foi ameaçada por este ato impiedoso e ilegal” e assumiram levar “extremamente a sério” a avaliação do Governo do Reino Unido de que é “altamente provável” que a Rússia seja responsável pelo envenenamento dos Skripal.