Quem espera sempre alcança. Robert P. Langlands acaba de ser laureado com o prémio Abel graças a um trabalho de 1967. Na verdade, nem sequer é bem um trabalho, é mais uma carta longa e de letra quase ilegível que lança as bases para uma teoria unificada das matemáticas. Agora, foi distinguido com o ‘Nobel’ da Matemática e 623 mil euros.

Quando ainda era um jovem matemático, com apenas 30 anos, Robert P. Langlands encontrou-se André Weil, um matemático de 60 anos. Trabalhavam ambos no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, já se conheciam, mas uma conversa daquele tipo nunca tinha surgido. O jovem canadiano não desperdiçou a oportunidade e tentou contar ao matemático francês o que andava a ocupar-lhe a cabeça nos últimos tempos.

André Weil tentou livrar-se do jovem professor com um: “O melhor é enviar-me uma carta”, conta o jornal espanhol El País. Robert P. Langlands aceitou o desafio e escreveu uma carta de 17 páginas. “Se estiver disposto a lê-la como pura especulação, agradecia. Caso contrário, tenho a certeza que terá um caixote do lixo por perto”, escreveu na altura.

A carta apresentava uma forma nova de encarar a matemática: sugeria ligações entre a teoria dos números e análise harmónica. Antes disso, estas duas áreas eram consideradas como não relacionadas.

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As bases estavam lançadas e o programa Langlands criado. Nos últimos anos, centenas de matemáticos, dos melhores matemáticos do mundo, têm trabalhado neste projeto. Tanto trabalho foi feito nesta área e tantos resultados produzidos, que deixou de ser apenas um programa de Langlands para ser uma grande teoria unificada da matemática.

Nem todas as conjeturas de Langlands foram demonstradas, mas já dois matemáticos foram laureados com a Medalha Fields, em 2002 e 2010, com esses trabalhos. O próprio Andrew Wiles usou o trabalho de Langlands como ponto de partida para resolver o Teorema de Fermat — e isso valeu-lhe o prémio Abel em 2016.

Fermat. Resolver um problema com 300 anos valeu “Nobel da Matemática”

Aos 81 anos, Robert P. Langlands ocupa o gabinete que outrora foi de Albert Einstein, mas quando ainda era adolescente chegou a pensar nem sequer seguir os estudos universitários. Foi convencido por um professor, conforme conta numa carta da Universidade da Colômbia Britânica (Canadá). Entrou nesta universidade quando ainda tinha 16 anos e completou, mais tarde, o doutoramento na Universidade de Yale (Estados Unidos).