A intensificação dos conflitos e a seca persistente em várias regiões do mundo fizeram subir para 124 milhões em 51 países o número de pessoas que passaram fome em 2017, segundo estimativas divulgadas esta quinta-feira.

O “relatório mundial sobre as crises alimentares 2018”, publicado pela União Europeia, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e Programa Alimentar Mundial (PAM), indica que se registou um aumento de 11 milhões de pessoas afetadas.

Em 2016, tinha sido estimado em 108 milhões o número de pessoas no mundo que enfrentaram uma situação de insegurança alimentar grave, enquanto em 2015 o número foi de 80 milhões.

“Duas em cada três pessoas com fome são de países que vivem crises prolongadas”, disse o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, em conferência de imprensa.

Os principais afetados por uma situação de “fome aguda” em 2017 incluem países envolvidos em conflitos ou em “grave insegurança”, como “o Iémen, o norte da Nigéria, a República Democrática do Congo, o Sudão do Sul e a Birmânia”, indica o estudo.

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Na África oriental e austral, a “seca persistente também desempenhou um papel importante”, já que “conduziu a reduções consecutivas das colheitas em países já confrontados com níveis elevados de insegurança alimentar”, sublinha.

Este ano, os conflitos e a insegurança continuarão a ser “provavelmente as principais causas de crise alimentar”, que afeta o Afeganistão, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, nordeste da Nigéria, região do lago Chade, Sudão do Sul, Síria e Iémen, assim como a Líbia e o Sahel central (Mali e Níger).

Segundo o documento, o Iémen continuará a ser “o país com a maior crise alimentar a nível mundial” e a situação deve mesmo deteriorar-se devido “a dificuldades de acesso, destruição da economia e epidemias”.

Em África, o impacto da seca aumentará a insegurança alimentar nas zonas pastorícias da Somália, sudeste da Etiópia e leste do Quénia, assim como em países da África ocidental e do Sahel, como o Senegal, Chade, Níger, Mali, Mauritânia e Burkina Faso.

O único alívio regista-se na África austral, onde se prevê uma melhoria graças ao aumento da produção de cereais em 2017 e à baixa do preço dos alimentos.

“Temos a obrigação moral de fazer melhor e temos as ferramentas e o saber para o fazer. Devemos quebrar as barreiras que há muito tempo separam os atores da ajuda humanitária e os do desenvolvimento”, disse António Guterres, secretário-geral da ONU, citado no relatório.