“O Museu das Maravilhas”

Cinquenta anos separam as duas histórias paralelas de duas crianças que Todd Haynes conta em “O Museu das Maravilhas”, baseado num livro infantil de Brian Selznick (de quem Martin Scorsese adaptou “A Invenção de Hugo”). Nos anos 20, uma menina surda-muda de uma família abastada procura a mãe, divorciada e que abandonou o lar, em Nova Iorque. Enquanto isso, nos anos 70, um rapazinho surdo foge de casa no Midwest para tentar descobrir, também em Nova Iorque, o que aconteceu ao pai, que nunca conheceu. As sequências na década de 20 são filmadas como no cinema mudo, enquanto que as da década de 70 têm as cores garridas e intensas dessa época, e dos filmes de então, sendo acompanhadas por uma banda sonora intrometida, que depressa cansa os ouvidos. Há em “O Museu das Maravilhas” sinais do Haynes formal e tematicamente experimental e inventivo de fitas como “Veneno”, “Seguro” ou “Não Estou Aí”, mas o filme acaba por se tornar demasiadamente laborioso e pinga caramelo sentimentalão por todos os lados, a que não é alheio o facto do próprio Brian Selznick ter também escrito o argumento.

“Maria Madalena”

O australiano Garth Davis, autor do detestável “Lion-A Longa Estrada para Casa”, impinge-nos aqui uma versão revisionista, radicalmente feminista e absurdamente anacrónica da figura de Maria Madalena, interpretada em jeito de sonsinha sentenciosa por Rooney Mara. Longe da prostituta arrependida e convertida dos Evangelhos, esta Maria Madalena é uma proto-feminista que se revolta contra a tirania machista da sua família de pescadores, recusando um casamento arranjado pelo irmão, e vai seguir Jesus Cristo (interpretado por um Joaquin Phoenix com ar semi-ganzado e que se limita a fazer figura de corpo presente), transformando-se no 13º apóstolo, na confidente do Messias e na mais fiel intérprete e primeira divulgadora da Sua mensagem. Enquanto isso, os restantes apóstolos ficam cheios de ciúmes e fazem cara e figura de parvos, deambulando pelo filme como baratas tontas. Como se tudo isto não bastasse, “Maria Madelena” é muito mal amanhado, muito Pasolini de trazer por casa, esvaziado de interesse dramático e cerradamente maçador.

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“Hostis”

Neste “western” do realizador e actor Scott Cooper (“Crazy Heart”), Christian Bale interpreta o capitão de Cavalaria Joseph J. Blocker, que está prestes a reformar-se, mas é obrigado, sob pena de ficar sem a pensão, a cumprir, com muita relutância, uma última missão encomendada pelo seu comandante. Trata-se de escoltar um velho e moribundo chefe Cheyenne, Falcão Amarelo (Wes Studi), seu inimigo antigo, e a família deste, da prisão onde se encontravam, para o território do Montana de onde estes índios são originários, após o presidente dos EUA, por motivos humanitários, ter ordenado a sua libertação. Homem endurecido pela violência e pela crueldade extrema da guerra, lacónico e cheio de ódio aos nativos, Blocker não tem outro remédio senão aceitar, e parte, acompanhado por um punhado de soldados. Pelo caminho, recolhem uma fazendeira (Rosamund Pike) a quem os Comanches massacraram a família. “Hostis” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.