Não é todos os dias que duas figuras da política nacional trocam galhardetes sobre… estilo. Fernando Rosas, fundador do Bloco de Esquerda, espicaçou Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do CDS-PP, num programa de televisão emitido a 15 de março. O fundador do Bloco de Esquerda comentava a ambição eleitoral da líder do CDS quando disse que esse partido “pode ter esta coisa da modernidade, é muito moderno, até tem um dirigente que diz que é gay, ai que moderno que ele é”. O segundo reagiu esta quinta feira no Twitter e puxou de uma das poucas coisas (senão a única) que os dois têm em comum — os suspensórios –, dizendo: “os meus suspensórios são muito mais giros, essa é que é essa”.

Num fim de semana em que o Porto só tem olhos para a moda, fomos aos bastidores do Portugal Fashion perguntar a quem mais entende do assunto se Adolfo terá razão. As opiniões dividem-se. “Olhei para ele [Fernando Rosas] três vezes, há aí um charme”, disse Mariama Barbosa, apresentadora do programa “Tesouras e Tesouros”, da SIC Caras. “Vê-se que usa o acessório com mais naturalidade. O Adolfo está ótimo, mas aquilo são uns suspensórios ou um arnês?“, conclui a apresentadora. Uma “mochila às costas”, “pose de bombeiro” e “José Figueiras em modo tirolês” foram algumas das expressões usadas para descrever o look do vice-presidente do CDS-PP.

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Inês Torcato, designer de moda, limitou-se a elogiar os dois políticos, evocando estilos muito diferentes. “Vejo que os suspensórios estão em alta, se calhar vou usar algumas na minha próxima coleção”, concluiu. Outro criador, desta vez Estelita Mendonça que, na passada quinta-feira, apresentou a sua coleção de menswear para o próximo inverno. Adolfo foi o favorito do designer, precisamente pela mistura de cores. Marta Rebelo, ex-deputada do PS e autora do blogue Fabulista, é uma opinião suspeita, ainda assim, a ter em conta. “Sou amiga do Adolfo e ele tem imensa pinta. Dentro do meio clássico em que se movimenta, porque além de político é advogado, consegue arriscar em lenços e gravatas diferentes”, explica.

Talvez esteja a faltar a opinião de um stylist. “O de cima [Adolfo], sem dúvida. Muito mais ousado e com muito mais atitude”, disse Nelson Vieira. Uma tese muito pouco consensual. A modelo Margarita Pugovka até chamou uma amiga, também manequim, para ter uma segunda opinião. O veredito foi claro: “O Rosas é o verdadeiro senhor dos suspensórios”. Há também quem tenha evocado questões cromáticas fraturantes. Se, por um lado, o vermelho vivo dos suspensórios de Adolfo destoa na restante indumentária, o tom mais escuro dos de Rosas harmonizam muito mais com o azul da camisa.

Uma breve história dos suspensórios

Para falar dos primeiros suspensórios é preciso ir até à França do século XVIII, época em que a corte de Versalhes era imbatível a ditar modas. Os primeiros exemplares não passavam de pedaços de fita presos às calças. Na segunda década do século XIX, o grande protagonista foi o designer britânico Albert Thurston (já agora, no Reino Unido diz-me braces, enquanto na América é suspenders), que começou a produzir suspensórios muito semelhantes aos que conhecemos hoje. Depois da Primeira Guerra Mundial, o cinto ganhou terreno.

Até aos anos 20, o acessório estava sobretudo associado a fardas militares, mas à medida que as cinturas das calças masculinas foram descendo as velhas alças elásticas foram caindo em desuso, à exceção, claro, de um ou outro gentleman à moda antiga e da vaga hipster, a mesma que ressuscitou as ilustres barbearias. Não esquecer que, no final dos anos 60, a subcultura mod recuperou a peça, se bem que com um toque bem mais transgressor, se pensar que, durante uma boa parte da primeira metade do século XX, os suspensórios nem sequer eram usados à vista, mas sim como roupa interior. Nas décadas seguintes, voltaram a estar na moda, desta vez pela mão dos movimentos punk rock e skinhead, nos anos 70 e 80, respetivamente.

E eis a linha que separa os suspensórios de Fernando Rosas dos de Adolfo Mesquita Nunes. Enquanto o primeiro se mantém fiel aos acessórios de velha guarda, de espessura intermédia e cores sóbrias, o segundo arrisca numa versão mais jovem. A misturas de cores está longe de ser consensual, mas lá está, os suspensórios de Adolfo não são para segurar as calças, são uma demonstração de à-vontade no vestir.