De um total de quase 40 desfiles, o de Diogo Miranda, a deixa final de quatro dias intensos dedicados à moda, foi o único que começou a horas. O relógio marcava as 23h30 em ponto quando a primeira modelo invadiu a passerelle num ritmo lento, preciso, diante do olhar de dezenas de pessoas. A casa estava cheia, na grande tenda montada pela organização do Portugal Fashion no Parque da Cidade do Porto, para ver cair o pano. Findo o desfile, a moda saiu temporariamente de cena, mas não tardará em voltar.

O final da 42º edição do Portugal Fashion não poderia ter sido mais cristalino. Diogo Miranda, que se estreou na Semana da Moda de Paris em 2015, altura em que atraiu a atenção dos media internacionais, não teve de procurar muito para encontrar a inspiração para a sua coleção de outono-inverno 2018/2019. Bastou-lhe olhar para cima e ver com outros olhos o mesmo candelabro de sempre, que há cinco anos mora no atelier, em Felgueiras. “Desta vez escolhi um tema que não é muito usual nas minhas coleções”, diz ao Observador, uma hora antes do desfile. Foi um cristal do candeeiro de família, que em tempos pertenceu ao avô e que esteve prestes a ir para o lixo, que o fez desenhar saias assimétricas, ombros marcados e folhos, mas não só.

A coleção de Diogo Miranda tem por base um cristal do candelabro que existe no atelier. @ João Porfírio / Observador

Numa tentativa (bem-sucedida) de combater a “pressão de surpreender e de fazer coisas diferentes”, Diogo investiu em coordenados com mangas trabalhadas e repletos de brocados, silhuetas esguias, numa ode clara às curvas femininas, e cortes facetados que ganham vida através dos brilhos e dos movimentos. Decotes profundos e rachas vertiginosas também fizeram parte de um desfile que não teve um momento de aborrecimento e que deixou claro o tipo de mulher que veste Diogo Miranda: urbana, ousada e elegante. O designer apostou ainda numa palete de cores sóbrias, a simbolizar a temporada fria para a qual foi criada: a coleção começa com cinzas, prossegue com rosa nude e termina no preto e azul petróleo. O brilho, esse, é praticamente omnipresente, não fosse ele simbolizar os reflexos do cristal. Num sentido mais literal, algumas das modelos chegaram a desfilar com cristais ao peito, pendentes que uma hora antes do desfile eram-nos mostrados em mão pelo próprio designer. “O candeeiro deve ser mesmo importante”, ponderamos. Ao que Diogo Miranda abre um sorriso rasgado e responde simplesmente que sim.

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Luís Onofre: 18 anos de olhos postos nos pés

Ao fim de 18 anos, a marca homónima de Luís Onofre atingiu finalmente a maturidade. Para celebrar uma data pouco redonda, mas nem por isso menos significativa, o designer apresentou este sábado uma coleção inspirada na década de 50, com reminiscências dos anos 70, presentes sobretudo nos stilettos com saltos vertiginosos. Onofre inspirou-se nas formas da época, ainda que tenha feito alterações ligeiras. Diz o criador que, na verdade, há sempre uma nova interpretação das peças. Os sapatos que avistamos nos bastidores eram quase todos pretos. A cor garrida, essa, ficou para as malas.

Além da viagem no tempo proposta pelos acessórios apresentados, Onofre explica que, a propósito dos 18 anos, recordou e readaptou peças ícone de outros tempos — exemplo disso é o veludo que o criador usou em 2004 e em 2005 e as pedras Swarovski que já são uma constante. “A coleção tem muito da história de mim como pessoa, de como interpretei a moda nestes 18 anos.”

Portugal Fashion. Ao quarto e último dia a arte criou a moda

O último dia do Portugal Fashion arrancou com os desfiles de Nuno Baltazar e Katty Xiomora, com ambos os criadores a levarem à passerelle coordenados inspirados na temática da arte. O evento prosseguiu com o desfile coletivo de várias marcas de sapatos (Ambitious, Fly London, J. Reinaldo, Nobrand, Rufel e The Baron’s Cage) e apresentação das coleções de outono-inverno 2018-2019 de Concreto, Ana Sousa, Lion of Porches e Dielmar. A rota da moda vira agora os ponteiros para as estações mais quentes.