Se há experiências garantidamente desagradáveis, pela dor que provocam no momento, que pouco ou nada diminui nos dias seguintes, entalar um dedo na porta de um automóvel tem de figurar necessariamente no top 10 da galeria da dor suprema. Ora, o que aconteceu a este condutor foi bem mais grave. E, literalmente, doloroso.

Godwin Boateng é um engenheiro americano de 61 anos, proprietário de um BMW X5. É igualmente o condutor que processou o construtor alemão por, alegadamente, o seu SUV lhe ter decepado parte do dedo. Segundo a queixa, Boateng esperava junto ao seu carro, com a mão apoiada no pilar B (o central) do carro. Tudo isto com porta da frente ligeiramente aberta, cerca de 30 cm.

Colocar a mão no pilar de uma porta aberta, se bem que mais que frequente do que seria aconselhável, pode ser considerado um descuido, e daqueles que podem sair caro. Especialmente para um engenheiro, que rapidamente pode calcular a pressão por centímetro quadrado exercida pela porta sobre o seu dedo, se ela, por mero acaso ou pela força do vento, se fechasse quando ele menos esperava. Mas, em defesa de Boateng, por muito forte que fosse a rajada do vento, e com a porta aberta apenas 30 cm, dificilmente ela geraria uma pressão suficiente para lhe cortar o dedo, por muita osteoporose que por ali andasse. Uma dor forte certamente e, muito provavelmente, uma unha negra durante uns largos dias. Mas não mais do que isso.

O que o proprietário do X5 alega, é que o soft closing automatic doors (SCAD) activou indevidamente o motor eléctrico – o tal que apenas deve actuar quando a porta está encostada ou mal fechada, completando a acção – e fez uma pressão de tal forma elevada que lhe cortou o dedo. E como o SCAD apenas deve funcionar quando a porta está encostada, e logo sem espaço para que algum objecto – ou dedo, mesmo de criança – se possa introduzir entre a porta e o pilar, não possui qualquer sensor para impedir o esmagamento. Coisa que, por exemplo, acontece com os vidros eléctricos das portas, que até cerca de meio centímetro do fim de curso estão protegidos por um sensor de pressão – o tal que visa impedir que aconteça ao dedo o que a guilhotina fez no pescoço da Maria Antonieta. Mas, a partir daí, vale tudo.

Segundo a BMW, o SCAD não deveria actuar antes de a porta estar a 0,5 cm de fechada, o que faz sentido, pelo que ou existiu um problema com os sensores do X5, ou o engenheiro vai ficar sem dedo e sem qualquer compensação. Mas tão pouco é impossível que o vento tenha fechado a porta, prendendo o dedo, e o SCAD feito de guilhotina. Felizmente para Boateng, e lamentavelmente para a BMW, o processo tem lugar nos EUA, onde basta levantar a dúvida para que o juiz decida que a vítima vai ficar bastante mais confortada com uns milhões no bolso, de que o fabricante dificilmente vai dar pela falta.

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