No início de março, aconteceu o quase impossível: Donald Trump aceitou o convite de Kim Jong-un e os dois líderes marcaram uma cimeira nuclear para maio. Depois de meses de insultos mútuos e acusações graves, EUA e Coreia do Norte iam encontrar-se para discutir a desnuclearização do país asiático. Mas, agora, o New York Times fez uma revelação que pode agitar o histórico encontro e tornar o fim dos testes de mísseis nucleares bastante mais longínquo: a de que a Coreia do Norte construiu um novo reator nuclear em Yongbyon, a 90 quilómetros de Pyongyang.

Donald Trump e Kim Jong-un vão reunir-se em maio para cimeira nuclear

O país de Kim Jong-un insiste que o objetivo da infraestrutura é produzir eletricidade para uso civil; mas o reator também produz plutónio, um dos principais combustíveis utilizados nas armas nucleares. Mas porque é que este novo reator pode complicar as conversações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte? A verdade é que, mesmo que o líder norte-coreano aceite congelar os testes de mísseis e se comprometa com a total desnuclearização, vai poder continuar a acumular combustível para armas enquanto as negociações se arrastarem.

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Mas esta não é a primeira vez que um tópico semelhante emerge durante conversações entre os Estados Unidos e uma potência nuclear. Durante as negociações com o Irão, Barack Obama exigiu a paragem de produção de quantidades significativas de um novo combustível para armas nucleares — ainda que as reservas iranianas só expirem dentro de 13 anos. Logo, Donald Trump teria de conseguir um compromisso semelhante da parte de Kim Jong-un para garantir que o país fica realmente desprovido de recursos nucleares.

Caso as negociações falhem — ou se prolonguem, simplesmente — o novo reator norte-coreano pode servir como justificação para uma ação militar por parte dos Estados Unidos. Principalmente porque o recém-escolhido conselheiro de Donald Trump para a segurança nacional é John R. Bolton, defensor de ações mais musculadas em casos semelhantes, como foi o caso do Irão.

O Centro para a Segurança e Cooperação Internacional da Universidade de Stanford garante que o novo reator já começou a fazer testes preliminares e tem sido registado um aumento da atividade. A infraestrutura tem a capacidade de gerar 25 a 30 megawatts de eletricidade – o suficiente para abastecer uma pequena cidade. O reator também pode eventualmente produzir 20 quilogramas de plutónio por ano: quatro vezes mais que a quantidade produzida pelo outro reator da Coreia do Norte, que abastece o arsenal nuclear do país há décadas.

Ainda assim, os analistas da Universidade de Stanford encontraram provas que corroboram a versão norte-coreana de que o reator serve apenas para gerar eletricidade. Mas realçam que o potencial nuclear está presente e que a Coreia do Norte há muito baniu os inspetores internacionais que monitorizam a produção de plutónio.