O interstício não era mais do que um espaço por onde circulava fluído. Agora, pode subir na hierarquia e passar a ser um órgão de pleno direito, pelo menos é o que propõe os autores de um artigo científico publicado na revista Scientific Reports.

A primeira observação foi feita nos canais biliares do fígado graças a uma técnica de endoscopia. “Uma camada intermédia do canal biliar, que se pensava que fosse um tecido conjuntivo densamente compactado e com uma parede de colagénio densa, era na verdade um espaço aberto, preenchido por fluido e sustentado por uma rede de fibras de colagénio”, disse Neil Theise, da Escola de Medicina Icahn do Hospital do Monte Sinai (em Nova Iorque), ao Público.

O espaço intersticial é a principal fonte de linfa e o maior compartimento de fluído do organismo. Mas os autores dizem que é mais do que isso. É uma estrutura contínua que se encontra a revestir os órgãos que são sujeitos a ciclos de compressão e distensão, seja estes ciclos contantes, como nos pulmões e artéria aorta, ou intermitentes, como no sistema digestivo depois de uma refeição, na bexiga durante a micção, na pele sob compressão mecânica ou na membrana entre os músculos quando estes estão ativos.

Esquema do espaço intersticial preenchido com fluído (fluid filled space) apoiado por uma rede de colagéneo (collagen bundles) e células de revestimento (lining cells) — Jill Gregory@2006 Mont Sinai Health System/Benis et al. (2018) Scientific Reports/CC BY 4.0

O que os autores propõe é que se olhe para o tecido conjuntivo de uma forma diferente, que não seja apenas considerado como uma parede de colagénio densamente empacotado, mas como um órgão que tem espaços preenchidos com fluído e novas células. Estas células têm características que lembram fibroblastos — as células do tecido conjuntivo, que fabricam colagénio —, e células endoteliais, que revestem o interior dos vasos sanguíneos.

A presença e continuidade deste órgão no corpo pode justificar porque é que um tumor que chegue aos espaços intersticiais têm uma maior facilidade de se espalhar pelo corpo. É como se o intestício funcionasse como uma estrada que leva as células para vários pontos do corpo. A boa notícia é que não transporta só as células tumorais, mas também as células do sistema imunitário.

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