“Custódia Partilhada”

Miriam Besson (Léa Drucker) separou-se do marido Antoine (Denis Ménochet), invocando o feitio violento e perigoso deste, e foi viver com os pais, levando consigo Joséphine, a filha adolescente, e Julien, o filho menor. Antoine, chefe de segurança num hospital e elogiado por superiores e colegas, muda de casa e transfere-se de instituição. Quer estar perto da família e recorrer ao tribunal para reivindicar os seus direitos de pai, e conseguir ter fins-de-semana com o filho (este, e a filha, não lhe chamam “pai” e referem-se-lhe como “o outro”). Uma juíza decide em favor de Antoine, e ele começa a sair com Julien, para provar não ser quem a mulher, e a família desta, alegam que ele é.

Primeira longa-metragem do actor Xavier Legrand, que lhe  deu o Leão de Prata de Melhor Realizador e o Prémio Luigi de Laurentiis no Festival de Veneza, “Custódia Partilhada” não é uma variante francesa de “Kramer Contra Kramer”, nem um panfleto “sociológico”, tão pouco um melodrama familiar de encharcar lenços de papel. Rodada com secura descritiva e poupança dramática por Legrand, a fita está empapada em medo. O medo que Miriam e os filhos têm de Antoine, o medo que este tem da sua família desaparecer do mapa e nunca mais ver o filho. E que o leva a não controlar a sua natureza e a agir contra os seus próprios interesses. Por isso, “Custódia Partilhada” acaba por se bandear para o lado do “thriller” naturalista, do terror firmemente colado à realidade quotidiana. O inferno também pode ser uma família destruída.

“Peter Rabbit”

Há alguns momentos no final de “Peter Rabbit”, em que vislumbramos o que este filme que junta actores e animação digital poderia ter sido, se produtores, argumentistas e realizador se tivessem mantido fiéis ao universo gráfico, à identidade estética e ao espírito das histórias do travesso coelho criado por  Beatrix Potter.  Infelizmente, são apenas alguns momentos. Porque esta versão “actualizada” das bucólicas aventuras de Peter Rabbit e companhia é uma grosseira, espalhafatosa e barulhenta deturpação do universo da celebrada autora e ilustradora inglesa de livros infantis, transmutado pelo realizador Will Gluck no equivalente animal e animado de uma daquelas comédias adolescentes espertalhufas e alarves, com acrescento de humor “irónico-cool” e de “rap” na banda sonora.

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Mal imaginava Beatrix Potter, que recusou firmemente ceder os direitos das histórias de Peter Rabbit a Walt Disney para este fazer desenhos animados, e sempre zelou pela integridade artística das suas criações, que na era da animação por computador elas seriam mutiladas desta forma, e o seu traquinas e gentil coelhinho se veria metamorfoseado num rufia gozão com sotaque popular. Como escreveu um crítico de cinema inglês, “Se estivermos com atenção, poderemos ouvir Beatrix Potter a dar voltas furiosas na sepultura”. Venha um surto de mixomatose e leve toda a fauna ruim deste daninho “Peter Rabbit”.

“Ready Player One: Jogador 1”   

Nesta fita adaptada do livro de Ernest Cline, que também participou no argumento, Steven Spielberg evoca e celebra a década de 80, que lhe é muito querida em termos de vida pessoal e também durante a qual realizou alguns dos seus filmes mais importantes (“Os Salteadores da Arca Perdida”, “E.T.-O Extraterrestre”). Mas Spielberg pretende apelar não só aos nostálgicos da cultura de massas dos “eighties”, como também à geração que está a crescer com os smartphones, os iPads e os jogos de vídeo com orçamentos e meios de produção de “blockbusters”, que passa horas na Internet, só vai ao cinema ver filmes de super-heróis e não sabe o que é ler um livro.

A história de “Ready Player One: Jogador 1” situa-se em 2045, num futuro onde as divisões sócio-económicas se acentuaram fortemente. Para escapar às agruras do quotidiano, as pessoas evadem-se em massa para um universo virtual, o OASIS, criado por um génio excêntrico, James Halliday (Mark Rylance), uma espécie de Bill Gates da realidade artificial. No OASIS, cada qual tem o avatar que lhe apetece e pode viver as aventuras mais inimagináveis, tal e qual como se estivesse metido num imenso e pluriforme jogo de vídeo. “Ready Player One: Jogador 1” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.