Depois do acidente que vitimou um peão, envolvendo um carro da Uber, os automatismos da condução voltam a estar na berlinda, mas agora envolvendo um Tesla. Walter Huang, um engenheiro na Apple, conduzia o seu Model X a caminho do escritório, às 9h27 através da Highway 101, quando embateu na barreira que separa a 101 de uma das múltiplas saídas. O acidente foi de uma violência extrema, o que provocou um incêndio, tendo o veículo de ser cortado para desencarcerar o ocupante, que faleceu no embate.
A cadeira de televisão ABC 7 News divulgou o vídeo relativo à cobertura que realizou ao fatídico acidente, a 23 de Março, que resume da melhor forma todos os elementos então disponíveis:
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A National Transportation Safety Board (NTSB) está a recolher dados e a analisar todo o processo, que se deverá ainda arrastar por mais um par de meses, mas já se sabe, devido à colaboração entre a NTSB e a Tesla, que Huang tinha o Autopilot ligado, sendo este sistema que assegurava a condução do Model X. De recordar que este é um sistema semiautónomo e não 100% autónomo, como no caso que envolveu a Uber em Tempe, no Arizona, uma vez que apenas garante que o veículo permanece entre os limites da sua faixa de rodagem, mantendo ainda uma distância segura – dependendo da margem de segurança seleccionada pelo condutor – ao carro da frente, independentemente da velocidade pré-estabelecida pelo condutor através do cruise control.
O que correu mal?
Várias situações contribuíram para o acidente, cabendo à NTSB apurar responsabilidades. Começando pela violência do embate, que explica a deformação do veículo e o princípio de incêndio que se seguiu, tudo aponta para a ausência de uma estrutura deformável a proteger a barreira de betão, que separava a faixa principal da secundária, naquele ponto da via rápida. Segundo as autoridades apuraram, 11 dias antes do embate mortal, aquele mesmo local foi palco de outro acidente similar, que destruiu a estrutura deformável (que pode ver na fotogaleria) que impedia os veículos de atingirem o betão ainda com uma velocidade elevada. Sucede que a mencionada estrutura não foi reposta, pelo que o Model X de Huang embateu quase directamente no cimento, expondo o condutor a uma desaceleração violentíssima, de que resultou a morte.
Paralelamente, a Tesla – que sabe exactamente onde está cada um dos seus modelos e recebe na sede, em Palo Alto, o relatório com todos os dados sobre o veículo e o tipo de utilização de que está a ser alvo –, revelou que o condutor do Model X viajava com o Autopilot ligado. Passados uns segundos (menos de um minuto) em que é permitido ao condutor circular sem colocar as mãos no volante, o sistema de condução semiautónoma da Tesla avisa o condutor que este tem de voltar a assumir a direcção e a marca americana tem nos seus relatórios, que já partilhou com a NTSB, que isso foi comunicado a quem ia ao volante várias vezes, sem efeito. Segundo a Tesla, “o condutor recebeu vários sinais acústicos e visuais para voltar a assumir a direcção, sem que tal tenha acontecido até seis segundos antes do embate”. O fabricante revelou ainda que o condutor teve “cinco segundos e 150 metros, de visão desobstruída, antes de embater no betão, mas nenhuma acção foi realizada”.
O que falta saber?
Se há dados concretos, que parecem ilibar a Tesla e culpar a empresa que assegura a manutenção da Highway 101, continuam a existir pormenores que urge deslindar. A começar pelo relativos às queixas de Huang, que chegou a visitar o concessionário da marca informando-o que o veículos tinha dificuldade em lidar – quando em Autopilot – com aquele mesmo desvio, aproximando-se excessivamente do separador, como se não se apercebesse da sua presença. Segundo a Tesla – restando ver se a NTSB concorda com esta análise –, a marca não só nunca conseguiu reproduzir esta situação que, segundo Huang originava um erro, como a mesma provaria uma dificuldade do sistema de navegação em identificar correctamente o desvio, e não especificamente do Autopilot. Pode ainda acontecer que a pintura no pavimento não seja evidente para o sistema de câmaras a que recorre o Autopilot, tanto mais que uma reparação recente provocou um remendo no asfalto que corre paralelo às linhas limitadoras da faixa de rodagem.
Mas há mais pormenores estranhos em toda este caso. A começar pelo facto de a Tesla anunciar que “já passaram 85.000 condutores dos seus Model S e X em Autopilot, desde que o sistema foi lançado em 2015, sem qualquer problema, 20.000 dos quais este ano de 2018”. O fabricante realça ainda que, hoje, “há 200 condutores por dia a confiar no Autopilot naquele troço de estrada sem relatar o mínimo problema”, pelo que importa saber o que na realidade correu mal, no acidente que tirou a vida a Huang, casado e pai de dois filhos. A NTSB tem a palavra.