A diferença na interpretação do valor que o Sporting transferiu para a conta bancária do Braga (700 mil euros transferidos, um milhão exigidos) foi o que levou Bruno de Carvalho a partilhar no Facebook um extenso comunicado dirigido ao presidente dos bracarenses. Mas o dirigente sportinguista não fez só isso. Liga de Futebol, Polícia, Federação, Governo e, pelo caminho, o rival da Segunda Circular — nada escapou à pena de Bruno de Carvalho. “O Sporting CP não cai na hipocrisia, que vem da cartilha vermelha, de dizer que apenas nos referimos ao presidente do Braga e não à instituição por esta nos merecer todo o respeito”, escreveu na sua conta pessoal.

Primeiro, as contas com o Braga. “A Federação Portuguesa de Futebol não obrigou o Sporting CP a pagar nada“, garante o dirigente sportinguista. “Apenas aconselhou com base em duas suposições que poderiam ou não criar problemas de interpretação”, garante. O Sporting transferiu 700 mil euros para o Braga pelas transferências dos atletas Rui Fonte e Pedro Santos. O Braga reclamava um milhão de euros. Bruno de Carvalho foi ao pormenor.

O Braga quis enganar o Sporting CP em cerca de 300 mil euros, tendo, agora, por mera precaução nossa, recebido cerca de 100 mil euros que vai ter de devolver”, garante o presidente do clube de Alvalade

O dirigente explica que, “por precaução”, pagou 85 mil euros “que poderiam ser só devidos na altura do pagamento das tranches do clube comprador ao Braga” e outros 17 mil euros “que derivam de um entendimento — no nosso entender, errado — de diferença cambial” no passe de Battaglia.

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Bruno de Carvalho pede desculpa e diz que é hora de “baixar a cabeça”

Esclarecida a questão dos valores, o ataque em todas as direções. A começar pelo próprio presidente do Braga, que durante toda a semana protagonizou uma acesa troca de palavras com Bruno de Carvalho; uma troca de palavras que a vitória dos bracarenses não ajudou a arrefecer.

“É muito bonito fazer comunicados quando ainda se anda a festejar uma vitória que, como de costume, não dá qualquer conquista, na esperança de não ter resposta”, disse o presidente do Sporting, ainda em reação à derrota por 1-0 na noite de sábado, que colocou o clube de António Salvador a apenas um ponto dos sportinguistas. “O Sporting CP não se rebaixa a um presidente fraco, que faz fracas as suas gentes“, diz agora Bruno de Carvalho, poucas horas depois de aconselhar os adeptos, dirigentes, atletas e treinadores a “baixar a cabeça” e refletir sobre a própria capacidade de envergar o símbolo do clube.

Foi daí que o dirigente leonino partiu para a ofensiva. Bruno de Carvalho considera que António Salvador é um “presidente que faz do seu treinador a sua cópia, insultando e agredindo pelas costas um atleta do Sporting CP”. E que “com Pedro Proença [presidente da Liga de Futebol] presente, ameaçou elementos da direcção do Sporting CP e dos seus núcleos ao intervalo”. O responsável da Liga está, segundo Bruno de Carvalho, “cativo de um G15 por quem Salvador dá a cara, e onde o verdadeiro incitador diz que ele só quer ser grande”.

António Salvador cita Bernard Saw para (não) responder a Bruno de Carvalho

Por outro lado, “a polícia está ‘manietada’, pelas palavras do próprio”, uma vez que “Salvador disse aos gritos no jantar antes da final da Taça da Liga: ‘Já mandei o comandante anterior para a rua, e se este não se portar bem também vai de vela'”, recorda Bruno de Carvalho.

“O Instituto Português do Desporto e da Juventude acha normal que não se cumpra a lei, e que se tenha claques ilegais apoiadas e incentivadas pelos clubes” e o “Conselho de Disciplina [da Federação]… bem, do Conselho de Disciplina tudo se espera” porque “eles vão do tudo ao nada com uma rapidez tremenda”, escreveu Bruno de Carvalho.

Ainda sobre António Salvador, o presidente do Sporting faz uma espécie de dois-em-um e deixa várias críticas implícitas ao Benfica.

“[Salvador é] um presidente que, como o seu homólogo da sua sede em Lisboa, mantém claques ilegais que passaram o jogo todo a mostrar faixas a ofender e caluniar o presidente do Sporting CP”, diz Bruno de Carvalho.

Mas “o Sporting CP não cai na hipocrisia, que vem da cartilha vermelha, de dizer que apenas nos referimos ao presidente do Braga e não à instituição, por esta nos merecer todo o respeito”, diz o presidente leonino. “Como se vê, o Braga insiste em mentir a cada passo que dá, utilizando a táctica da sua ‘casa mãe’, a manipulação da informação e o terrorismo comunicacional”, acrescenta no mesmo texto.

Bruno de Carvalho defende que o Braga devia ser alvo de uma “multa pesada” pelo que aconteceu “no relvado, nas bancadas e na tribuna” na Pedreira este sábado à noite. As autoridades desportistas deviam impor um “castigo pesado a Salvador pelo comportamento completamente labrego na tribuna – grosseiro, mal criado – e às suas ameaças a elementos da direcção do Sporting CP e dos nossos núcleos”, além de um “castigo pesado ao treinador do Braga, por insultos e agressão (ainda por cima cobarde, pelas costas) a um atleta do Sporting CP” e de uma “interdição do Estádio da CM de Braga por o Braga ter, propositadamente, apagado as luzes quando os adeptos do Sporting CP iam sair”.

A concluir, nova farpa para o outro lado da Segunda Circular: “O Governo tem de ter, definitivamente, uma mão dura no futebol português, porque Salvador apenas quer desviar as atenções da sua ‘casa mãe’ em Lisboa: os vouchers, os e-mails, a e-toupeira e os jogos para perder.”