As probabilidades calculadas pelas casas de apostas indicavam que o Braga-Sporting que se disputou este sábado era um jogo de tripla, como se costuma dizer na gíria. Quem não tiver acompanhado o percurso dos minhotos esta temporada poderia ver nisso apenas mais uma “irracionalidade dos agentes económicos” — afinal, as últimas cinco idas dos leões a Braga para o campeonato tinham resultado em cinco vitórias –, mas o momento de forma dos bracarenses (vinham de seis vitórias consecutivas), a prestação na primeira volta em Alvalade (deu um 2-2, que não se justifica apenas pelas muitas ausências de titulares leoninos por lesão ou castigo) e a proximidade pontual entre as duas equipas (apenas quatro pontos à partida para este jogo) eram razões mais do que plausíveis para se presumir que a estatística recente podia passar à história.

O início da partida até parecia contrariar o equilíbrio que viria a predominar na partida. O Sporting entrou forte, a pressionar alto. Os leões não só queriam jogar no meio-campo do Braga como conseguiam fazê-lo, com os centrais, autoritários, a distribuir bem jogo (não se ressentindo da ausência de William Carvalho, o regista verde e branco que se lesionou na ida à Seleção Nacional), com Bruno Fernandes a conseguir receber e trabalhar bem no meio-campo ofensivo (jogou na posição 10) e com um Gelson Martins irrequieto e inspirado a mudar de velocidade no ataque. Até Acuña, que entrara no onze para esta jornada (depois de ter sido suplente na última partida, em detrimento de Rúben Ribeiro), criava perigo em cruzamentos tensos para a área e combinações com o lateral-esquerdo Fábio Coentrão.

O Braga rapidamente se acomodaria a jogar de forma mais expectante, deixando os leões ter bola e preocupando-se apenas em defender a sua área e tentar a sorte no contra-ataque. Logo aos 6 minutos, o carrossel leonino daria sinal de si com o primeiro remate digno de registo no jogo: Piccini e Gelson (sempre Gelson) combinam do lado direito, o último cruza para a área e Bas Dost, de cabeça, antecipa-se aos centrais do Braga. O movimento do holandês sem bola, igual a tantos outros que já resultaram em golo, foi muito bom — mas o cabeceamento falhou o alvo.

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A dupla que ocupava o meio-campo do Braga, Vukcevic (mais imponente fisicamente) e André Horta (nas funções de organizador de jogo), estava a ser engolida por Battaglia, Bruno Fernandes e Bryan Ruiz, que entrou no onze titular para atuar a médio-centro, relegando para Bruno Fernandes as funções mais criativas. Este trio pressionava, circulava a bola, libertava-a no momento certo para os corredores. Problema: os leões jogavam bom futebol mas precisavam de Bas Dost para finalizar — e apesar de muito o procurarem, sobretudo em cruzamentos (num deles, Bas Dost chocou com o guarda-redes do Braga, Matheus Magalhães), nunca a ligação deu golo.

O jogo começaria a mudar aos 28 minutos, quando Wilson Eduardo, avançado dispensado pelos leões (tal como Ricardo Esgaio, que foi igualmente titular ou Jefferson, que não pôde jogar por estar emprestado pelo Sporting), aproveitou uma fífia de Mathieu na área para lhe roubar a bola e ultrapassar Rui Patrício. Porém, o avançado do Braga adiantou a bola em demasia e perdeu o ângulo de remate — atiraria ao lado.

O sinal estava dado e, a partir daí, o Braga começou a ganhar confiança, subindo em bloco no terreno e levando a disputa do jogo para a zona de meio-campo. Isso não impediria lances esporádicos como o que Bruno Fernandes teve ao 32 minutos — quando conseguiu receber na área, rodar e ficar de frente para a baliza dos minhotos, atirando à figura — mas o Braga pressionava mais (e com mais agressividade: em dez minutos viu três jogadores seus, André Horta, Vukcevic e Bruno Viana, serem amarelados), chegava também à baliza dos leões e terminaria a primeira parte a fazer golo.

Para este golo anulado, o Braga teve uma preciosa ajuda de Mathieu, que respondeu defeituosamente a um cruzamento de Ricardo Horta (de onde vinha grande parte do perigo do ataque minhoto), pela esquerda, e em vez de corte fez um remate para a baliza. Foi o primeiro momento de traição entre leões — mais tarde, Jesus diria ter-se sentido “atraiçoado” pela expulsão de Piccini — mas o árbitro Luís Godinho, que validara o golo em primeira instância, consultaria o vídeo-árbitro, veria ele próprio as imagens do lance e descortinaria uma falta sobre Gelson Martins, segundos antes. Nos últimos minutos a partida tinha ficado mais partida, com ataques rápidos de parte a parte. O árbitro Luís Godinho enviaria pouco depois as três equipas para o balneário.

Piccini facilitou, Raúl Silva não perdoou

Ao intervalo começava-se a fazer contas. Por um lado, este era o oitavo jogo consecutivo em que o Sporting não ia para o intervalo a ganhar (o último até fora de má memória, em janeiro, no Bonfim, num jogo que terminaria empatado). Por outro, a última vez que o Braga fora para o intervalo com 0-0 contra o Sporting, em casa, para o campeonato, tinha sido precisamente na última vitória dos minhotos. Para onde caminharia o jogo?

A resposta talvez pudesse ser antecipada pela forte entrada dos minhotos na segunda parte, que empurraram o Sporting para fora da sua área e começaram logo a criar perigo aos 50 minutos, quando, na sequência de um livro, Raúl Silva serviu (possivelmente sem intenção) o avançado Paulinho, que frente ao guarda-redes não conseguiu colocar a bola no fundo das redes.

Os centrais leoninos começavam então a evidenciar-se mais pelos desarmes do que pelos passes (Mathieu, nos primeiros 21 minutos, registara nada menos do que 21 passes… todos certos) e o jogo ganhava tons de equilíbrio — ainda que com mais bola e perigo para o lado bracarense. Este seria sacudido apenas aqui e ali, como quando Gelson Martins ligou o turbo, aos 60 minutos, e tentou isolar Bas Dost. Bruno Viana, o último defesa, estava por perto — e esticou-se tanto que conseguiu cortar. Não foi um golo mas foi quase.

Aí, já Piccini estava farto de sofrer com as arrancadas de Ricardo Horta e até já fora amarelado, precisamente por só ter conseguido parar o extremo português aos 56 minutos recorrendo à falta. Os treinadores mexiam — Jesus trocava Acuña por Rúben Ribeiro, Abel trocava velocidade por peso e jogo aéreo e substituía Wilson Eduardo por Dyego Souza — mas as defesas continuavam difíceis de transpor. Só de fora de área o golo parecia poder surgir e André Horta e Bruno Fernandes bem tentaram, quando em dois minutos consecutivos receberam em posição frontal e atiraram a rasar os postes.

Com duas referências ofensivas na área, o Braga começava a procurar chegar ao golo através de cruzamentos e Paulinho (aos 72′) e Dyego Souza (aos 75′) davam sinais de perigo. Os jogadores do Sporting começavam a denotar cansaço, o Braga, empurrado pelo público, forçava a chegada a área e a expulsão de Piccini — por segundo amarelo, aos 83′ — precipitaria a avalanche atacante dos minhotos. O Sporting ficaria remetido à defesa, conseguindo sair com perigo apenas já em desvantagem, aos 93′, por Montero (que entrara com o jogo em 0-0, quando Jesus procurava ganhar, mais do que não perder). Antes, aos 86′, na sequência de um livre, o central goleador Raúl Silva (leva já seis golos) aproveitou um passe de cabeça do seu companheiro Paulinho e uma desatenção dos defesas leoninos para atirar para golo, sem hipóteses para Rui Patrício.

A conquista do título ficou “praticamente impossível”, admitiu Jesus: a seis pontos do segundo classificado (que Jesus ainda acredita poder ultrapassar, como referiu na conferência de imprensa, lembrando que as duas equipas vão ainda defrontar-se em Alvalade) e podendo ficar a oito pontos do primeiro (se o F. C. Porto vencer no Restelo esta segunda-feira), só um milagre e uma ajuda do Belenenses já esta segunda-feira farão do Sporting campeão.