No próximo dia 9 de abril faz um ano que morreu Carme Chacón, a antiga ministra da Defesa espanhola — a única mulher até hoje a ocupar este cargo — que se tornou um ícone quando foi fotografada e filmada grávida e a fazer uma revista às tropas. No passado dia 13 de março teria feito 47 anos.

Ex-ministra da Defesa espanhola morre aos 46 anos. Tinha síndrome do “coração invertido”

Numa entrevista ao El Español, Mireia Chacón, irmã mais nova da socialista, falou da única mulher até hoje a candidatar-se à liderança do PSOE e de como teria reagido à crise na Catalunha. “O seu coração rebentou de tanto o usar”, disse Mireia Chacón sobre a irmã, que morreu vítima de uma doença congénita do coração, um síndrome raro chamado “coração invertido”.

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Descreve-a como uma pessoa muito ligada à família e aos amigos, que estava constantemente a ouvir rádio e a dançar ao som das músicas que passavam. O seu grande amor era Miguel, o seu único filho com Miguel Barroso, ex-assessor do antigo presidente espanhol, José Luis Zapatero. “[Miguel] era tudo para ela. Era uma mãe dedicada. Dava sempre prioridade às suas ações pensando no Miguel.”

Nascida em Esplugues de Llobregat (Barcelona), Mireia não tem dúvidas de que a irmã, especialista na Constituição espanhola e em federalismo, não teria defendido a atitude do governo de Puigdemont, ao convocar um referendo ilegal e ao declarar a independência unilateral da Catalunha.

“A minha irmã nunca renunciou às suas responsabilidades e sem dúvida que haveria tomado partido relativamente à crise política e institucional sem precedentes da Catalunha”, disse Mireia Chacón. “Não era partidária da independência da Catalunha, mas sim das cotas máximas de autogoverno numa Espanha federal. (…) Estaria profundamente triste com o choque entre os povos que a classe política permitiu e, em alguns casos, fomentou para ter uma rentabilidade muito questionável de votos.”

Quanto ao facto de se ter tornado um símbolo dos direitos das mulheres depois de ter passado revista às tropas quando estava grávida, Mireia acredita que a irmã não tinha consciência do poder daquela imagem, porque era uma pessoa “simples e humilde”.

“Nunca pensámos que aquela imagem estaria nos livros da História de Espanha.”

E, apesar de a família não ter a tradição de celebrar o Dia da Mulher, Carme teria estado nas manifestações feministas que ocorreram no dia 8 de março. “Carme admirava as mulheres que sofriam de assédio sexual e que sobrevivem neste mundo de homens. Admirava as mães dos soldados que tinham perdido os filhos. Lembrava-se sempre da frase de uma delas: ‘Ministra, não tenha só um filho’.”

O PSOE vai homenagear a antiga ministra no Congresso dos Deputados, que irá contar com a presença de Zapatero e do secretário-geral do partido Pedro Sánchez. “Deste ano ficou-me uma frase que o meu pai disse depois de visitar o cardiologista, meses depois da morte dela. Uma frase que me reconforta: ”Carme foi uma sortuda, deu-nos 46 anos.’ A mim, deu-me, 41 e meio.”

Carme Chacón e a foto icónica de uma ministra grávida a passar revista às tropas