O concurso de beleza Miss Venezuela foi suspenso por suspeitas de corrupção e de uma rede de prostituição a envolver as concorrentes, conta o El País. O grupo de comunicação social Cisneros Media, responsável pela promoção do evento, disse em comunicado que o objetivo é “iniciar uma revisão interna para determinar se algum dos seus relacionados, durante o exercícios das suas funções, tomou parte em ações que violem os valores e a ética do certame”. A decisão surge quase um mês depois de Osmel Sousa, presidente da organização nas últimas quatro décadas, se ter despedido. Entretanto, várias ex-concorrentes vieram confirmar os esquemas de corrupção e de entrega de patrocínios em troca de favores sexuais que já se suspeitavam acontecer no seio da Organização Miss Venezuela.

A primeira mulher a falar sobre esses alegados crimes foi Patricia Velásquez, candidata a Miss Venezuela em 1989, quando em 2015 escreveu na autobiografia “Sin tacones, sin reservas” que se prostituiu para conseguir tornar-se famosa no concurso. A seguir a ela, Migbelis Castellanos, que representou a Venezuela no concurso Miss Universo em 2014, veio afirmar que Osmel Sousa lhe prometeu patrocínio de um membro do Governo em troca de sexo, recorda o El País. Mas o escândalo só rebentou quando Annarela Bono, ex-mulher de Antonio Morales (ex-assistente de Hugo Chávez e superintendente das Instituições do Setor Financeiro), e a modelo Hannely Quintero terem dito que várias colegas foram “enchufadas” [termo coloquial espanhol que em português se traduz para “apadrinhadas”, mas que tem conotação sexual] por empresários ou funcionários do Governo.

Algumas mulheres já vieram a público admitir que tinham sido “apadrinhadas”: Debora Menicucci (mulher do presidente do Supremo Tribunal da Justiça) também aparece num vídeo ao lado de Annarela Bono a admitir que estabeleceram ligações com pessoas no poder para conseguirem dinheiro que suporte financeiramente a participação na Miss Venezuela, mas em troca de favores sexuais. E Vivian Sleiman, concorrente de 2001, disse que o homem com que se encontrou para a patrocinar apareceu na reunião quase nu.

Já depois de ter renunciado ao cargo, Osmel Sousa veio dizer que não apresentou mulheres a possíveis patrocinadores com favores sexuais como moeda de troca. Numa entrevista ao portal Runrunes, o “czar da beleza” afirmou: “Que se investigue, e que se investigue mesmo, que se apresentem provas e não mexericos. Acha mesmo que, depois de 37 anos à frente da Miss Venezuela, a Venevisión [televisão pública venezuelana] não se daria conta se houvesse uma rede de prostituição? Agora, se há alguma menina que depois de sair do concurso faça uma vida irregular, isso não é responsabilidade nenhuma, nem da Miss Venezuela, nem da Venevisión”. Estas declarações surgiram apenas um mês depois de Osmel Sousa se ter despedido ao publicar uma fotografia no Instagram que dizia: “Realizei muitos sonhos, trouxe muitos triunfos e dei alegria a uma nação. Hoje decido retirar-me da presidência da Organização Miss Venezuela através da grande porta, pela mesma porta que entrei há quase 40 anos com a ajuda do meu grande amigo Gustavo Cisneros. Continuarei a lutar e trabalhar por um país melhor, de mãos dadas com Deus e com todos vós. Milhares de agradecimentos por tantas alegrias #MissVenezuela. Vamos continuar a ver-nos”.

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