O secretário do Tesouro brasileiro, Mansueto Almeida, admitiu esta terça-feira à agência Lusa, em Lisboa, que a corrupção no Brasil foi agravada com “políticas e escolhas erradas” em projetos de investimento que não trouxeram retorno. Em declarações à Lusa à margem do VI Fórum Jurídico de Lisboa, em que representou Henrique Meirelles, ministro da Fazenda brasileiro, Mansueto Almeida assumiu, porém, que a corrupção está a ser combatida e a prova disso mesmo são os sucessivos casos de políticos, empresários e administradores de empresas que estão em julgamento.

“Todos os escândalos e corrupção afetam o comportamento de empresas importantes. Mas o nosso maior problema dos últimos anos foram as escolhas erradas, projetos de investimento que não dão retorno, foram excessos de subsídios a algumas empresas e alguns setores sem retorno. Muito mais danoso que a corrupção, que é danosa no mundo todo, foram as escolhas políticas erradas”, criticou. Questionado pela Lusa justamente sobre se se preocupa com a imagem internacional do Brasil, nomeadamente em termos económicos, Mansueto Almeida reconheceu que o país mostrou o lado “negativo” do fenómeno, mas destacou o esforço da justiça e do sistema judicial brasileiro no combate à corrupção.

Toda essa questão de corrupção, em qualquer país do mundo, é sempre negativa. Por outro lado, também é positivo porque é um país que combate a corrupção, mostra que está a fazer o trabalho de casa, mostra que as instituições são independentes. No caso do Brasil, o que se tem visto, apesar de todo esse escândalo que ocorreu, são instituições que estão a funcionar de forma independente”, argumentou. “O judiciário brasileiro tem funcionado de forma totalmente independente dos poderes executivo e legislativo. Vários países do mundo já passaram por problemas semelhantes e acho que hoje a sociedade tem meios para enfrentar esse problema. Um [sistema] judiciário independente como há no Brasil é a melhor forma de resolver o problema da corrupção”, acrescentou.

Sobre o atual momento económico do Brasil, Mansueto Almeida admitiu que o país está com um défice “ainda muito grande”, quase 7% do Produto Interno Bruto (PIB), embora a taxa de crescimento prevista para este ano e para 2019 seja “positiva”, situando-se, disse, nos 3%. Mas, advertiu, são necessárias várias reformas para que o PIB possa crescer de forma consistente, com particular destaque para a Previdência — “o Brasil gasta com este setor o mesmo que Portugal, sendo um país muito mais jovem” -, algo que, se nada for feito, “vai atrapalhar o crescimento”. Outra questão premente é a taxa de desemprego, “ainda muito alta”, situando-se um pouco acima dos 12%.

“É uma taxa de desemprego parecida um pouco com o que ocorreu nos países da Europa há cerca de oito anos, no auge da crise financeira. Mas, com a volta do crescimento, o desemprego deve começar a cair de forma gradual. Não vai ser uma queda muito rápida, vai ser gradual, ano após ano”, explicou. Para Mansueto Almeida, outro constrangimento do país passa pelo facto de o Brasil ser uma economia grande, “mas muito fechada”, com uma “corrente de comércio muito pequena “entre o que importa e exporta em relação ao tamanho da economia.

“Precisamos de nos entregar mais ao resto do mundo. O Brasil precisa de importar mais para poder exportar mais. A abertura comercial e os tratados comerciais são muito importantes para o Brasil, bem como a reforma tributária. O sistema tributário no Brasil, apesar de arrecadar muito, é muito complexo. O sistema precisa de se tornar mais simples”, defendeu. Sobre se o Brasil poderá vir a sentir os reflexos da “guerra comercial” desencadeada pelos Estados Unidos nas tarifas aduaneiras ao aço e alumínio, Mansueto Almeida desvalorizou-os, uma vez que as exportações brasileiras de aço e alumínio para o mercado norte-americano são “residuais” e “sem concorrência direta com a indústria” daquele país.

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