Porque é que interessa falar sobre uma modelo a usar um hijab na capa da Vogue? A pergunta é feita pelo jornal britânico The Guardian e reflete uma tomada de posição. A mais recente edição da Vogue britânica — maio de 2018 — tem na capa a expressão “Novas Fronteiras”. Ao contrário do que o título possa no imediato sugerir, não está em causa uma alusão a disputas intergalácticas no universo da ficção científica, mas sim uma conversa sobre diversidade. Na capa estão nove modelos e apenas três são caucasianas. À sua volta estão mulheres de culturas, raças e etnias distintas, curvas que fogem aos padrões impostos e ainda uma modelo de hijab na cabeça.

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"Like so many industries in recent months, fashion has found itself at an important crossroads. At the world’s great design houses, at photographic studios, at fashion weeks and in the offices of magazines such as mine at #BritishVogue, crucial questions have been asked about working practices, safety and respect. Stock has been taken and safeguards to the way we operate have been made…" editor-in-chief @Edward_Enninful writes in his editor's letter for May Vogue. "Yet as a new mood begins to take hold – one that will only enrich and enliven creativity in fashion – I also believe that the time has come for us to look forward. In short, it is a moment for Vogue to do what it has always done best: to offer a bold vision of what the future can – and should – look like." For the May issue, nine models each changing the face of the fashion industry in their own way are photographed by @CraigMcDeanStudio with styling by Enninful for the cover story. From L to R: @vittoceretti, @Halima, @adutakech, @LaFaretta, @Palomija, @Pazhatu, @mulan_bae, @fransummers and @selenaforrest. Story by @ellie_pithers, make-up by @diane.kendal, hair by @orlandopita and nails by @megumiyamamotonyc. On newsstands April 6. Read Enninful's letter in full, plus how to subscribe to #NewVogue all at the link in bio

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Esta é a primeira vez na história que a Vogue britânica coloca uma modelo de hijab na capa — um feito que demorou mais de um século a acontecer. A modelo em causa é Halima Aden, de 20 anos, que nasceu num campo de refugiados no Quénia. Segundo o artigo publicado no The Guardian, foram precisos 50 anos para que a Vogue britânica colocasse uma modelo negra na capa. Aconteceu em 2004 com Naomi Campbell e só voltou a acontecer em 2014.

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@voguearabia ❤️ #dubai????????

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No mesmo artigo lê-se que, desde que foi fundada, em 1916, a revista apenas teve editores caucasianos. Uma situação que mudou recentemente com a chegada de Edward Enninful, cuja primeira capa trouxe modelos de etnias diferentes e ainda a ativista feminista Adwoa Aboah para as bancas.

A capa de maio de 2018 resultou de uma sessão fotográfica que ficou a cargo de Craig McDean e foi realizada durante dois dias num loft em Manhattan, em Nova Iorque. A ideia, escreve Edward Enninful na Vogue, era juntar nove futuras grandes estrelas da moda e criar uma capa que pudesse definir o rumo da revista em 2018. “Quero deixar claro que, quando falo em diversidade, nunca é apenas sobre modelos negras ou caucasianas. Mas sim sobre diversidade em todos os aspetos — raça, tamanho, origem socioeconómica, religião e sexualidade. É isso o que quero celebrar com esta capa.”

A bíblia da moda tem feito história em diferentes países. Em fevereiro de 2017 era noticiado que a publicação parisiense trazia pela primeira vez na capa uma modelo transexual — Valentina Sampaio, então com 22 anos. Nas páginas da Vogue Paris já antes tinha figurado uma modelo transgénero, mas nunca tal acontece na capa de uma Vogue, francesa ou não.

Pela primeira vez, a Barbie vai ter um hijab

Curiosamente, no final do ano passado a Mattle, marca que produz as Barbies, anunciava ao mundo a primeira boneca com um hijab, inspirada na esgrimista norte-americana Ibtihaj Muhammad. Bonecas ou mulheres de verdade, a moda e o próprio consumo parecem estar numa viagem sem retorno rumo à diversidade.