A presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande defendeu esta quarta-feira a constituição de equipas de sapadores florestais intermunicipais para a prevenção e também para a consciencialização junto das populações.

“Entendemos ser premente a constituição das equipas de sapadores florestais intermunicipais, assim como a cooperação com as associações com interesse nesta matéria, sobretudo para a prevenção e também para a consciencialização junto das populações”, adiantou a presidente do Município da Marinha Grande, Cidália Ferreira (PS), a propósito do relatório da Comissão Técnica independente sobre os incêndios de outubro de 2017, documento entregue na Assembleia da República a 20 de março, cinco meses após aqueles fogos que mataram 49 pessoas.

A autarca referiu que tomou conhecimento do relatório da Comissão Independente, “onde é relatado que o incêndio que veio a devastar 86% do Pinhal do Rei, ao fim dos primeiros 15 minutos, já estava incontrolável por força das condições meteorológicas e dos fenómenos anormais ocorridos naqueles dias”.

Cidália Ferreira sublinhou que esta referência não serve para “diminuir a importância da existência e ativação atempada do Plano Municipal de Emergência”, mas “para reforçar que não foi por ausência de resposta atempada do mesmo que as consequências foram as que todos” conhecem. Segundo a presidente, “as autarquias, nos últimos anos, foram forçadas a fazer ajustamentos orçamentais e até mesmo impedidas de contratar os recursos humanos necessários para a sua atividade normal”.

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“A proteção civil municipal sofreu com estes mesmos constrangimentos e limitações, quer em recursos humanos, quer em meios técnicos. Na conjuntura atual, é impensável que a Câmara Municipal da Marinha Grande tenha por si só uma estrutura humana e técnica que dê resposta suficiente a este tipo de acidentes, com estas proporções”, alertou a autarca, reforçando, por isso, a necessidade de serem constituídas as equipas de sapadores florestais intermunicipais.

Falhas na programação do socorro e na rede de comunicações e um “dramático abandono” das populações foram identificados pela comissão técnica independente de análise dos grandes incêndios de outubro de 2017, que admite, contudo, uma conjugação singular de fatores meteorológicos.

A comissão técnica independente criada para analisar os grandes incêndios rurais de 2017 entregou no dia 20 de março no parlamento o relatório dos fogos de outubro (dias 14, 15 e 16), envolvendo oito distritos das regiões Centro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu) e Norte (Braga e Viana do Castelo), e que provocaram 49 mortos.

O documento conclui que falhou a capacidade de “previsão e programação” para “minimizar a extensão” do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento. A comissão descreve que a junção de vários fatores meteorológicos constituiu “o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16h00 do dia 15 de outubro e as 5h00 do dia 16”.

Contudo, acrescenta, a Autoridade Nacional de Proteção Civil pediu um reforço de meios para combater estes incêndios devido às condições meteorológicas, mas não obteve “plena autorização a nível superior”, e a atuação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi “limitada” por falhas na rede de comunicações.

“Em algumas fases das operações, não foi possível referenciar o posicionamento dos meios envolvidos em diversos teatros de operações”. As queimadas e o fogo posto foram as duas principais causas das mais de 900 ignições registadas nestes fogos, considerando-se preocupante o número de reacendimentos.