Angola iniciou em 2017 a exportação de focas vivas, para oceanários e jardins zoológicos de todo o mundo, com uma centena de exemplares, volume que já este ano deverá aumentar para 150. A informação foi avançada à agência Lusa pelo responsável da empresa angolana Mar Dourado, Juan José González Silveira, que vai para o segundo ano neste negócio, a partir do município do Tômbwa, no sul de Angola.

As focas são capturadas, em conformidade com a legislação angolana, na Baía dos Tigres, 100 quilómetros para sul, e depois de um período experimental em 2017, a empresa construiu no Tômbwa instalações de raiz, com quatro tanques, para adultos e focas mais jovens, podendo albergar em simultâneo até 50 animais vivos. “Tentamos que não lhes falte nada. E temos boas condições”, garante este argentino, que chegou no final de 2016 a Angola.

O negócio dá emprego a cerca de 30 pessoas e as instalações, junto à baía do Tômbwa, garante Juan Silveira, “obedecem às normas internacionais”, com sol e sombra, além da alimentação. “O problema é que as focas não sabem comer pescado morto, estão habituadas a comer peixe vivo. Temos que as ensinar a comer e isso leva 20 dias, às vezes um mês”, explica.

Em 2017, este argentino conduziu as primeiras exportações angolanas de focas, todas oriundas da Baía dos Tigres e onde são capturadas com recurso a redes e laços, num total de 100, vendidas por cerca de 1.200 euros cada. Seguiram para oceanários, parques marinhos e jardins zoológicos da Rússia, China e do Uruguai, entre outros destinos. Um negócio que vai aumentar este ano, com encomendas de 150 focas angolanas. “Correndo tudo bem, penso que em dois ou três meses temos as capturas feitas”, explica.

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No recinto aquático da empresa, as focas podem ficar até cerca de mês e meio, no processo de adaptação necessário antes de seguirem viagem para o destino final, antes viajando por terra mais de 1.000 quilómetros até ao aeroporto internacional de Luanda. “O normal seria que após 40 dias da captura estivessem fora. O importante é estarem aqui o menos tempo possível, porque este local é apenas para manutenção. Mas temos de certificar que não têm qualquer doença ou problema ao sair do país”, acrescenta Juan, de 57 anos.

A captura de focas voltou novamente a ser permitida em 2018, em Angola, segundo a regulamentação para a atividade de pesca este ano, que entrou em vigor a 22 de janeiro. A medida volta a estar prevista no artigo 16.º do regulamento sobre as medidas de gestão das pescarias marinhas, da pesca continental e da aquicultura, para este ano, e define ser “permitida a captura de focas como forma de assegurar a gestão racional e sustentável dos recursos biológicos aquáticos”.

Em Angola, a pele de foca chega a ser aproveitada para produzir sapatos na província do Namibe, mas também os ossos e a carne são aproveitados. Cada um destes mamíferos pode chegar a alimentar-se diariamente com oito quilogramas de peixe. A população de focas em Angola registou um crescimento de 12,4 por cento, em três anos, passando de 26.235 para 33.449, segundo um estudo de 2015 a que agência Lusa teve acesso.

A autorização ao abate de focas no sul de Angola tem sido anualmente feita pela Governo angolano desde 2013, como forma de gestão desta população na Baía dos Tigres, na província do Namibe, e por não ser uma espécie ameaçada no país. “Devem ser organizados programas de monitorização em conformidade com as normas ambientais e prestação de informação de exploração do recurso”, lê-se no mesmo artigo do regulamento para 2018, que também não específica quantidades de captura permitidas.

O regulamento refere apenas que esta pesca “deve ser acompanhada por cientistas do Instituto nacional de Investigação Pesqueira” e que envolverá a “instalação de uma fábrica” para “processamento das focas” na Baía dos Tigres, no município da Tômbwa, que neste caso não chegou a avançar.