Pelo terceiro ano consecutivo, a Fundação Calouste Gulbenkian desafia criativos, engenheiros, programadores, gestores e designers a participar na maratona de desenvolvimento tecnológico Hack For Good, nos dias 5 e 6 de maio, com o propósito de criar soluções para questões como o bem-estar dos idosos, das crianças e a integração social de refugiados. A edição deste ano, que irá decorrer no Palácio dos Correios, no Porto, conta com diversas novidades, incluindo um bootcamp que pode levar a que alguns projetos marquem presença na Web Summit. As inscrições para o evento estão abertas até 25 de abril.

Ao contrário do que foi norma nas edições anteriores, o Hack For Good de 2018 propõe três desafios ao invés de apenas um. Neste “hackaton”, onde se pretende que os participantes desenvolvam soluções tecnológicas para a resolução de problemas sociais, a organização apresenta um novo tema, o bem-estar das crianças e dos jovens, e recupera as temáticas que marcaram as edições anteriores: o bem-estar dos idosos e a integração social de refugiados e migrantes.

A opção de oferecer aos participantes a possibilidade de escolher de entre três temas diferentes surge num contexto de “aprendizagem” para a organização do evento, explicou ao Observador o diretor adjunto do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, Luís Jerónimo.

Tem havido algumas aprendizagens ao longo deste percurso, e daí haver bastantes novidades nesta terceira edição. Normalmente, aquilo que fazemos é alinhar os temas do Hack For Good com temas que a Fundação está a trabalhar, no âmbito do programa de coesão e integração social, onde esta iniciativa se insere. Foram os casos do envelhecimento e da integração de refugiados. O tema que nos faltava tratar, dentro daquilo que são as nossas prioridades, tem que ver com as crianças e jovens e o seu bem-estar.”, disse Luís Jerónimo.

Luís Jerónimo, também porta-voz da Hack For Good, afirma que a organização do evento sentiu que “seria interessante” poder vir a mostrar “diferentes aplicações da tecnologia na resolução dos diferentes problemas sociais”, bem como ver se “este hackathon pode funcionar com temas mais alargados”, os quais, considerou, podem ser mais atrativos e trazer equipas “que podem não se interessar por um dos temas”.

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O vencedor do Hack For Good deste ano receberá um prémio monetário de 5.000 euros, ao passo que o segundo classificado será premiado com 2.000 euros. Os três primeiros classificados terão ainda acesso a plataformas e software disponibilizados por parceiros do evento.

“Algumas ideias precisavam de uma resposta mais estruturada”

Uma das grandes novidades da edição de 2018 do Hack For Good está na realização de um bootcamp antes e depois do hackathon. Este campo de treino, diga-se, anda desde 27 de março e até 29 de abril a percorrer o país, oferecendo aos participantes ajuda na estruturação do projeto que poderão depois apresentar na maratona de desenvolvimento tecnológico. A participação neste “warm-up“, explicou Luís Jerónimo, não é obrigatória.

As equipas com as melhores propostas durante o hackaton terão a oportunidade de as trabalhar e desenvolver num campo posterior à maratona. Daí serão selecionadas e convidadas aquelas que tiverem mais potencial para apresentarem o seu projeto na Web Summit, que vai decorrer em Lisboa entre os dias 5 e 8 de novembro.

A iniciativa, disse Luís Jerónimo, já não se resume só à maratona, que descreve como “evento central”, mas sim ao trabalho anterior e “pós”, que anteriormente não existia. O diretor adjunto do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano reconheceu o que nem todas as ideias são “concretizadas”, mas referiu que a organização quer perceber se é possível “ir um pouco mais longe e dar ferramentas às equipas que queiram continuar a trabalhar nas suas ideias”.

Até esta edição, sentimos que não tínhamos nenhuma resposta estruturada de acompanhamento das equipas que quisessem continuar a desenvolver as suas ideias [após o hackathon], pelo que desenhámos um programa de acompanhamento e pré-aceleração, digamos assim, para as equipas que tenham vontade e compromisso de querer vir a desenvolver as suas ideias.”, afirmou o porta-voz da Hack For Good.

Nas edições anteriores, ainda que, segundo Luís Jerónimo, houvesse “sempre disponibilidade [da Fundação] para facilitação de alguns contactos”, essa resposta estruturada não existia. Ainda assim, há ideias como a MyXIMI — uma aplicação que utiliza técnicas de gamificação (isto é, características de videojogos) para combater o isolamento dos idosos e conquistou o segundo lugar na edição de 2016 — que acabam por sair do papel e manter-se ativas. “Têm feito um percurso muito bom depois de ter estado na Fundação”, considerou Jerónimo.

É para que mais casos destes se sucedam que a organização da Hack For Good decidiu apostar nos bootcamps e marcar presença na Web Summit, outra das grandes novidades da edição de 2018. Segundo o porta-voz, a Fundação sentiu que “fazia sentido” estar presente, juntamente com “as equipas e os projetos que façam todo este percurso e que são demonstrativos deste papel que a tecnologia pode desempenhar na resolução daquilo que são os grandes desafios da sociedade”.

Vai ser uma oportunidade de visibilidade, mais do que da iniciativa, dos projetos aqui desenvolvidos e uma possibilidade de ‘networking’ fantástica. Foi isso que nos motivou a estar presentes. É um investimento nosso, mas que acreditamos que vai dar muitos e bons frutos.”, afirmou.

Apesar da crescente aposta no evento e de uma maior ambição, Luís Jerónimo referiu que “no início não era evidente o papel” que a fundação poderia ter no domínio do desenvolvimento de tecnologia para resolução de problemas sociais. Tanto que o Hack For Good estava pensado para ser apenas um evento de uma edição. Contudo, “com os bons frutos que têm sido dados, tornou-se uma aposta da fundação”, afirmou Jerónimo, acrescentando que vão continuar a apostar no Hack For Good “e em outras iniciativas nessa área de trabalho”.