A Associação Portuguesa de Fisioterapeutas alerta que 40% dos cuidados de fisioterapia estão a ser prestados por profissionais não habilitados e defende a necessidade de uma ordem profissional para combater os abusos e “usar melhor os dinheiros públicos”.

“O problema mais grave da fisioterapia em Portugal são os atos praticados por não-fisioterapeutas”, afirma em comunicado o presidente da associação, Emanuel Vital, adiantando que o Estado gasta anualmente “mais de 74 milhões de euros em cuidados de medicina física e reabilitação”, que “muitas vezes são praticados por pseudo-fisioterapeutas”. Em declarações à agência Lusa, Emanuel Vital disse que esta situação se deve essencialmente à ausência de regulação da atividade profissional.

“Neste momento, a informação que temos sobre a nossa prática profissional é escassa, não existem estudos com alguma validade que nos permitam conhecer a realidade”, lamentou. Segundo Emanuel Vital, as situações são relatadas à associação por quem está no terreno e revelam que há clínicas por todo o país em que os cuidados de fisioterapia estão a ser desenvolvidos por técnicos auxiliares e massagistas. “A nossa preocupação acima de tudo é garantir que as pessoas que necessitam de cuidados de fisioterapia possam aceder aos fisioterapeutas e os fisioterapeutas desenvolveram a sua atividade de forma regulada”, disse à Lusa.

Os relatos que chegam à associação, por parte dos seus associados, apontam para um aumento dos problemas graves originados por más intervenções anteriores, sobretudo em doentes com AVC, com doenças pulmonares obstrutivas crónicas e lombalgias. Segundo a associação, a maioria desses tratamentos prestados por não-fisioterapeutas é feita com base em “calor húmido”, “ultrassons” e “massagem”, que já são considerados ultrapassados pela comunidade científica.

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“Em muitas clínicas em Portugal, a maioria dos tratamentos não segue as novas ‘guidelines’ internacionais”, afirma Emanuel Vital. A Associação Portuguesa de Fisioterapeutas alerta para “um problema de saúde pública” que afeta quase quatro milhões de pessoas. Para garantir a qualidade dos serviços de fisioterapia, Emanuel Vital defende a necessidade de regular a profissão e de uma ordem profissional.

A criação da Ordem dos Fisioterapeutas foi aprovada em 20 outubro de 2017 na Assembleia da República, com a votação na generalidade de projetos de lei nesse sentido do PS e do CDS. Na consulta pública que se seguiu, dos quase 300 pareceres nacionais e internacionais que chegaram ao Parlamento, mais de 90% pronunciaram-se favoravelmente à criação da Ordem, refere a associação no comunicado.

“Estamos a falar de regular a atividade de mais de 11 mil profissionais vocacionados para o exercício liberal da profissão, dos quais só uns 1.350 estão no Serviço Nacional de Saúde — todos os outros trabalham no privado, boa parte de forma liberal”, afirma a presidente da Comissão Pró-Ordem dos Fisioterapeutas, Isabel de Souza Guerra.