Há precisamente 55 anos, a 14 de abril de 1963, as duas bandas inglesas que daí a uns meses começariam um longo reinado como as maiores do Reino Unido (para muitos, são as duas maiores bandas de sempre) encontravam-se pela primeira vez. O encontro aconteceu num pub londrino chamado Crawdaddy Club, que tinha como “banda da casa” o então ainda muito jovem grupo de Mick Jagger e Keith Richards.
A noite era de folga para o quarteto de Liverpool, à época já muito mediático, que acabara de atuar pela terceira vez no programa de televisão (dedicado à música) Thank Your Lucky Stars (já lá haviam estado em janeiro e fevereiro desse ano). Recém chegados a Londres, para onde se haviam mudado, os Beatles estavam curiosos, queriam conhecer a cena musical da cidade.
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A noite seria longa, terminando apenas às 4h. O começo seria supreendente para os Rolling Stones. “Estávamos a tocar num pub… e toda a gente estava a divertir-se, sabem? De repente viro-me para o público e reparo que estavam ali quatro tipos com sobretudos pretos. Porra, olhem quem está ali”, viria a contar Keith Richards na sua autobiografia, citado pela revista online norte-americana Slate.
Na plateia, o ambiente também era de espanto. “Lmebro-me de estar ali de pé numa sala lotada e encharcada em suor e vê-los no palco. O Keith e o Brian… wow! Soube logo que os Stones eram excelentes. Tinham presença”, recordava por sua vez o baterista dos Beatles, Ringo Starr. George Harrison, guitarrista, também ficou logo impressionado com o que ouviu: “Eles ainda estavam na cena musical de clube, a rasgar, a tocar músicas de rhythm and blues. ”
Um ‘after’ num apartamento pouco limpo
Depis do concerto, os Beatles dirigiram-se ao remendado (e, contam as crónicas da época, pouco limpo — o lixo acumulava-se, a loiça amontoava-se em vários lugares e os cinzeiros estavam há muito por despejar) apartamento em que os Rolling Stones moravam, em Edith Rove (rua situada em Chelsea, Londres).
James Phelge, colega de casa de Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones (membro fundador, à época ainda na banda), recordaria posteriormente que os Beatles e as pessoas que os seguiam de perto “apareceram com o ar de terem um uniforme profissional… todos os membros da entourage [dos Beatles] estavam cuidadosamente vestidos com os mesmos sobretudos escuros dos membros da banda, dando-lhes a aparência de uma grande equipa”. Paul McCartney não era um deles: “o olhar dele dizia qualquer coisa como: isto não me é totalmente estranho”.
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Ao longo da noite, conta a Slate, os discos rodaram sucessivamente no gira-discos do apartamento e os membros dos Beatles e Rolling Stones trocaram opiniões sobre os seus gostos musicais. Os Rolling Stones tocaram as demos que os Beatles haviam há pouco gravado nos estúdios IBC e estavam reticentes em falar das suas influências americanas (o blues, muito presente na música que já faziam). Tudo ficou facilitado quando John Lennon, sem pruridos, assumiu que um dos seus grandes ídolos era precisamente uma lenda americana do blues, Jimmy Reed.
[Quando Mick Jagger introduziu os Beatles no Rock and Roll Hall of Fame:]
O cantor de “Imagine” criou uma boa relação com Brian Jones. Os dois descobriram, nessa noite, que tinham ambos filhos chamados Julian (o de Lennon tinha apenas seis dias). O conhecimento musical de Brian Jones, um génio da música que acabaria por ser despedido dos Rolling Stones devido ao uso de drogas (e que morreria pouco depois, aos 27 anos), impressionou John.
O que se seguiu viria a definir grande parte da história da música popular: George Harrison fez lobby para que a editora Deca (que recusara assinar com os Beatles antes de estes se tornarem mediáticos) assinasse com os Rolling Stones, Lennon e McCartney escreveriam uma canção para o grupo de Keith Richards — “I Wanna Be Your Man” –, que o quarteto de Liverpool gravaria também pouco depois e McCartney rapidamente deixou Mick Jagger rendido aos benefícios da erva. Este último e Brian Jones viriam a cantar juntos em “Yellow Submarine”, com Lennon quase a ficar eletrocutado com o material de estúdio.
Com percalços e vitórias no caminho, Beatles e Rolling Stones gravariam nos anos seguintes êxitos incontáveis, venderiam discos como quase ninguém, encheriam estádios e deixariam um legado decisivo na cultura do século XX. Tudo começou a 14 de abril de 1963, há 55 anos.