O jornalista Vladimir Netto considerou esta segunda-feira que a democracia não está fragilizada no Brasil com a crise que o país enfrenta neste momento, mas, pelo contrário, vê um processo de amadurecimento da democracia com a operação Lava Jato. “A democracia não está fragilizada no Brasil. Eu não vejo desta maneira. O que eu vejo é um processo amadurecimento da democracia”, afirmou Vladimir Netto, em entrevista à agência Lusa.

O jornalista, que trabalha no canal de televisão Rede Globo e cobre há anos os grandes casos de corrupção no Brasil, está em Portugal para promover o seu livro “Lava Jato”, editado no país pela Desassossego, uma chancela do Grupo Saída de Emergência. “A (operação) Lava Jato pode tornar a democracia brasileira melhor, pode melhorar a qualidade desta democracia, porque a corrupção é o grande mal que atrapalha o progresso da América Latina. Então, você deve enfrentar este problema, esta é a grande questão, isso sim pode levar a um fortalecimento da democracia”, acrescentou Netto.

Para o autor, há pessoas que criticam a operação Lava Jato – que investiga um grande esquema de corrupção no Brasil, nomeadamente na Petrobras, que envolve políticos, empresários e outros – “e que pode levar a uma desestruturação”. “Eu não vejo desta maneira, acho que podemos sair mais fortes desta operação” de investigação da Polícia Federal e do Ministério Publico brasileiros, argumentou.

O livro “Lava Jato”, lançado no Brasil em 2016 com grande sucesso, inspirou a série ficcionada da Netflix “O Mecanismo”, do diretor brasileiro José Padilha. A obra relata os passos da operação de investigação desde os seus primórdios, em 2014, até maio de 2016. Para Vladimir Netto, o seu livro “é um registo histórico” do que levou “a operação Lava Jato tão longe, porque teve tanto sucesso, porque foi mais bem-sucedida do que as outras”, indicando que, desde o início, esta operação “mostrou ser diferente”.

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“Então o meu trabalho foi este, um pouco tentar reconstruir exatamente o que tinha acontecido. Tem lances de sorte, coisas inesperadas e a história revelou-se mais interessante do que eu imaginava”, disse, considerando que a obra tem toques de um “‘thriller’ policial”. “O que me deu mais prazer escrever foi descobrir, aos poucos, como a soma de fatores, como por exemplo um investigador dedicado e um pouquinho de sorte, acabou levando ao sucesso de uma grande operação (de combate) de corrupção. Uma operação contra a corrupção que realmente está levando o Brasil a uma reflexão profunda, que pode levar a uma transformação da sociedade”, sublinhou.

Para Netto, “a reconstrução histórica (feita no livro) é muito preciosa”, citando vários casos, como a prisão do “doleiro” (quem negocia moeda estrangeira de forma ilegal) Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, os primeiros “delatores” da Lava Jato, que desencadeou as prisões de políticos, empresários e outros envolvidos em corrupção, nomeadamente na Petrobras.

“É isto que conto no meu livro, como por sorte tivemos esta oportunidade e esta tem de ser aproveitada, para refletir o que queremos. Vamos querer uma sociedade com corrupção o tempo inteiro? A corrupção leva à desigualdade, ela diminui os recursos que colocamos em hospitais, na saúde, na educação”, afirmou.

Para o autor, todos os casos da operação Lava Jato são muito interessantes e importantes para a história brasileira. “É isso que quero deixar registado e isso pode levar a uma reflexão em outros países, como aqui (em Portugal)”, argumentou. Para Netto, o futuro da Lava Jato “é incerto, como sempre foi”, pois há “uma luta constante” no âmbito desta operação.

“O meu livro permite às pessoas perceberem como as coisas aconteceram e as estruturas que podem levar a transformar a sociedade brasileira, se a sociedade brasileira assim o permitir. Mas esta batalha não está fechada. Talvez a Lava Jato leve a um futuro melhor ou talvez não” (…) Eu sou um otimista, eu acho que o futuro é um Brasil melhor”, sublinhou.