A estreia de um octeto e o revisitar de antigas canções, com novos arranjos e novas sonoridades, pautam o espetáculo com que Fernando Tordo assinala, na quarta-feira, no Teatro Tivoli, em Lisboa, 50 anos de carreira como compositor. Com 70 de idade, completados no passado dia 29 de março, e 54 anos de canções, entre carreira a solo e primeiros ensaios em ‘conjuntos’, na adolescência, Fernando Tordo completa este ano meio século de composição, data que assinala com este espetáculo, em Lisboa, e outro, no Porto, na Casa da Música, no próximo dia 27.
Em entrevista à Lusa, Fernando Tordo não entra em pormenores sobre o alinhamento do concerto. Não nega, porém, que cantará as canções “mais importantes, seguramente”. ‘Cavalo à solta’, ‘Estrela da tarde’, ‘Tourada’, ‘Adeus, tristeza’, ‘Balada para os nossos filhos’ são algumas das canções que não deixará de cantar, até porque, sublinha, fazem parte do repertório que foi fazendo a sua carreira ao longo dos anos.
Nestes dois espetáculos, Fernando Tordo – que começou a cantar e a tocar ainda adolescente no que então se chamava “‘conjuntos’, que agora ‘bandas'” -, o cantor e compositor, estreia também um octeto próprio e levará três convidados a cada um dos palcos. Em Lisboa, vão estar Anabela, Ricardo Ribeiro e Filipe Manzano Tordo, pianista clássico e filho do cantor que o acompanhará, pela primeira vez, numa canção, enquanto no Porto, a Filipe Manzano Tordo e Anabela, se junta Rita Redshoes.
Novos arranjos e novas sonoridades, a que não é estranho o facto de vir a ser acompanhado por um octeto, marcam os “espetáculos-percurso” dos 50 anos de carreira de Fernando Tordo, como compositor, durante os quais também cantará temas menos conhecidos do público, a par de outros que lhe ficaram sempre colados à pele, remontando às primeiras canções, escritas em 1968. Fernando Tordo tornou-se mais conhecido do público com as mais de cem composições para as quais José Carlos Ary dos Santos escreveria a letra, naquela que foi uma dupla única na música portuguesa.
Fazem parte desse lote canções como “Cavalo à solta”, “Tourada”, “Adeus, tristeza”, “Estrela da tarde”, “Carta de Longe”, “Minha Laranja Amarga e Doce”, entre tantas outras, numa dupla musical que só terminou com a morte do poeta, em 1984. Ary dos Santos será assim, como de costume, muito cantado nestes espetáculos. A obra que tem com “o Ary” — como faz questão de tratar o poeta — é, por isso, uma obra destacada na canção em Portugal e que estará sempre presente nos seus espetáculos, sejam grandes ou mais pequenos, e nos quais explica a obra conjunta que fez com o poeta.
“Primeiro, eu compunha a música, e só depois o Ary escrevia as letras. Era assim que ele gostava”, frisa. “É uma parceria histórica da nossa canção”, assevera Fernando Tordo, sublinhando que negar isso era negar a sua própria vida. E Fernando Tordo não nega a vida, como não nega que é ao público que deve a sua carreira – uma carreira que entende como um “acontecimento de vida” e que quer “partilhar com o público”, pois é a este “que deve” um percurso artístico “assim longo”.
Com meio século de carreira, Fernando Tordo que, em 2015, gravou um álbum de inéditos quando se encontrava no Brasil, intitulado “Outro canto” – e com o qual venceu, no mesmo ano, o prémio Pedro Osório, da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) -, não tem, para já, novo disco de originais no horizonte próximo. Encontra-se a gravar um disco de duetos — já gravou com Jorge Palma, Camané, Ricardo Ribeiro, Marisa Liz, Herman José, Carlos Moisés (Quinta do Bill) e Tim (Xutos e Pontapés) -, que espera concluir em maio.
“Se não estiver ou não sair nessa altura deverá estar nas lojas lá para a época de Natal”, frisou. Quanto à divulgação da música portuguesa, em Portugal, Fernando Tordo lamenta que continue sem se fazer como devia ser, porque há muita e muito boa música portuguesa. “Temos uma rádio que, à exceção da Antena 1, pura e simplesmente não passa música portuguesa”, refere.
Uma citação de que é difícil sair, refere o cantor que, em 2014, foi viver para o Brasil do qual voltou há cinco meses. Fernando Tordo tem, no entanto, esperança de que em Portugal ainda venha a haver “algum apego e algum gosto pela cultura”.