O Presidente da República afirmou esta terça-feira que é preciso lutar pela democracia todos os dias e recriá-la sem cessar, sem ceder um milímetro, num discurso perante os deputados e senadores espanhóis, nas Cortes Gerais de Espanha.

Marcelo Rebelo de Sousa, que se encontra em visita de Estado a Espanha, fez uma intervenção de doze minutos na Sala do Plenário do parlamento espanhol, em Madrid, dedicada à importância da democracia, palavra que repetiu mais de uma dúzia de vezes.

“Lutar pela democracia é um imperativo de todos os dias. Tal como é um erro acreditar que basta a sua proclamação nas constituições e nas leis ou entender que, uma vez consagrada, é um dado adquirido para sempre. Vós e nós sabemos o que foi viver em ditadura e sonhar com a democracia e construí-la palmo a palmo durante longas caminhadas feitas de esperança e de combate”, declarou.

Alternando entre o português e o castelhano, acrescentou: “Não ceder nem um milímetro dessa democracia é recriá-la sem cessar. Temos de recriar permanentemente a nossa democracia, a nossa educação, os nossos sistemas sociais, a nossa economia, a nossa relação e a relação com todos os demais, as nossas instituições, a nossa proximidade com as pessoas”.

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Segundo o chefe de Estado, isso tem de ser feito “com a cultura e a partir da cultura, porque a cultura é o que permanece quando as conjunturas económicas e políticas se alteram, quando as pessoas se sucedem no permanente fluir do tempo”, constitui “a verdadeira diferença entre a democracia e a ditadura”.

Quando terminou a sua intervenção, o Presidente da República foi surpreendido por um gesto simbólico de parlamentares pró-independência da Catalunha, que, com cravos amarelos ao peito, em sinal de apoio aos políticos catalães presos, cantaram no hemiciclo a canção-símbolo do 25 de Abril “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso.

Sobre esse tema, Marcelo Rebelo de Sousa avisou logo à chegada a Espanha, no domingo à noite, que nada iria dizer, por se tratar de um assunto interno de um “país irmão”.

Esta terça-feira, mesmo no final seu discurso, referiu-se somente de passagem à diversidade dentro da Península Ibérica: “Unidos como estamos, Espanha e Portugal, Portugal e Espanha, ambos muito diversos entre nós e dentro de nós, conscientes de que só juntos, e tal como somos, poderemos ir mais longe”.

“Só juntos, em democracia, com a humilde coragem de querer mais futuro do que passado. Esta a mensagem fraterna do Presidente de Portugal, homenageando nestas Cortes o forte caráter, a vigorosa personalidade, a consistente determinação, o espírito indomável do povo espanhol. Viva Espanha, viva Portugal”, concluiu.