O Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipa um défice mais alto que o esperado pelo Governo para este ano, de 1% do PIB em vez dos 0,7% previstos no Programa de Estabilidade, apesar de estar mais otimista para o crescimento da economia portuguesa que o próprio Governo português. O departamento liderado por Vítor Gaspar espera uma redução mais gradual do défice nos próximos anos, ao ritmo de uma décima por ano, e menos crescimento a partir do próximo ano.

Na sua publicação regular, o Fiscal Monitor, o departamento de assuntos orçamentais do Fundo, que é liderado pelo antigo ministro das Finanças português Vítor Gaspar, antecipa uma redução do défice menos intensa que a projetada pelo Governo português, prevendo que o défice caia no máximo para 0,8% em 2020, ano em que Mário Centeno já espera ter as contas públicas equilibradas.

Segundo as previsões do Fundo, o Estado ainda terá um saldo deficitário em 2022, à volta de 0,6% do PIB. As previsões feitas agora pelo FMI têm em conta apenas as medidas que estão aprovadas no Orçamento do Estado para 2018 e a legislação atualmente em vigor, não contabilizando as medidas de política anunciadas no Programa de Estabilidade ainda por concretizar.

O departamento liderado por Vítor Gaspar prevê também que o saldo ajustado do ciclo – uma medição próxima, mas não igual, do saldo estrutural calculado pela Comissão Europeia e usado para aferir o cumprimento das regras orçamentais europeias – sofra um agravamento este ano, de 0,8% do PIB para 1%, e volte a aumentar em 2019 para os 1,1%, mantendo-se neste nível em 2020.

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Os dados menos positivos para as contas públicas surgem mesmo com uma previsão mais otimista para o crescimento que a do Governo – 2,4% em vez dos 2,3% previstos no Programa de Estabilidade -, mas só para este ano. No próximo ano o FMI já espera um abrandamento do crescimento económico para 1,8% do PIB, menos cinco décimas que o esperado pelo Governo português, que só antecipa um ligeiro abrandamento a partir de 2021.

A redução do défice esperada, apesar de a um ritmo inferior, acontece com uma previsão de diminuição gradual da despesa pública (em percentagem do PIB) em Portugal até 2022, que, a concretizar-se, significaria o oitavo ano consecutivo de redução.

No entanto, esta redução da despesa será acompanhada por uma diminuição gradual da receita, que depois de atingir um máximo de 45,1% do PIB em 2013 – ano do ‘enorme aumento de impostos’ cunhado pelo próprio Vítor Gaspar – tem vindo a cair sucessivamente. Esta tendência terá sido interrompida apenas no ano passado, quando a receita terá crescido uma décima, em percentagem do PIB.

Portugal é o país da zona euro que mais corta dívida pública até 2023 

O FMI estima que Portugal consiga reduzir a dívida pública para perto de 105% do PIB até 2023, uma redução superior a 20 pontos percentuais e que é a mais forte da zona euro nos próximos seis anos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que Portugal consiga reduzir a dívida de 125,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 para 104,7% em 2023.

Esta redução da dívida pública em 20,9 pontos percentuais do PIB é a mais forte entre os países da zona euro, segundo as previsões do Fundo.

No Programa de Estabilidade 2018-2022, entregue na sexta-feira à Assembleia da República, o Governo estima uma redução da dívida pública de 23,6 pontos percentuais do PIB mas em cinco anos, ou seja, um ano mais cedo do que prevê o FMI.

No documento, o executivo liderado por António Costa conta reduzir a dívida pública em 23,6 pontos percentuais do PIB, mas em cinco anos: para 122,2% em 2018, para 118,4% em 2019, para 114,9% em 2020, para 107,3% em 2021 e para 102% em 2022.

Nas estimativas do FMI, e entre os 19 países da moeda única, Portugal é o que mais vai reduzir a dívida pública até 2023. Atrás ficam a Grécia, que tem um corte previsto de 16,8 pontos (de 181,9% para 165,1% do PIB), e a Itália, com uma diminuição estimada de 14,9 pontos percentuais (de 131,5% em 2017 para 116,6% em 2023).

No ano passado, Portugal era o terceiro país da zona euro com o maior nível de dívida pública, apenas atrás de Itália e da Grécia, mas mesmo com ritmos de redução superiores, vai permanecer neste lugar até 2023.

Nesse ano, segundo o FMI, serão estes os únicos três países da zona euro a apresentar níveis de dívida pública superiores a 100% do PIB. Próximos deste valor ficam a Bélgica (com 93%), Espanha (90,9%) e França (com 89%).