O foyer do Cinema S.Jorge vai receber um speed dating diferente na sexta-feira à tarde: sete deputados dos sete partidos representados na Assembleia da República vão falar com eleitores cara-a-cara, numa conversa que pode durar, no máximo, cinco minutos. Depois, toca uma campainha e é tempo de mudar de mesa. O speed dating político é um dos muitos eventos do Festival Política, que começa esta quinta-feira, 19, e dura até domingo, 22. O festival abre com a antestreia de um filme proibido na Rússia de Putin, A morte de Estaline, e consiste em discutir política a partir da sociedade civil e tendo como ponto de partida debates, filmes, conversas concertos, workshops e arte.
Um dos organizadores do Festival Política, Rui Oliveira Marques, explica que o festival parte de um modelo que já existe “nos países nórdicos, em Itália e no Reino Unido” e que “pretende discutir questões políticas a partir da sociedade civil, recorrendo a filmes e manifestações artísticas.” Este é a 2ª edição do Festival Política em Portugal e este ano terá como tema as questões da igualdade e da não-discriminação. O evento tem como parceiro a EGEAC — a empresa municipal que promove a cultura em Lisboa — e está integrado na programação “Abril em Lisboa”.
Um dos debates terá como mote: “A Justiça é Racista?” Este painel vai partir de casos judiciais que têm tido cobertura mediática a par da análise de situações vividas no quotidiano. O objetivo, segundo a organização é responder a questões como: “A legislação portuguesa garante uma proteção eficaz contra o racismo e a xenofobia? Porque razão quem nasce em Portugal não é automaticamente português? As instituições são eficientes a combater a não discriminação no exercício de direitos por motivos baseados na raça, cor, nacionalidade ou origem étnica?”
Outro dos eventos será uma atuação de um quarteto de cordas formado por quatro dos solistas Orquestra Metropolitana de Lisboa que irão interpretar duas obras de compositores cujas vozes foram “abafadas” pelos respetivos regimes – o salazarista em Portugal e o nazi na Alemanha. Em causa estão compositores que estiveram presos no Aljube (onde os opositores ao regime sofriam nas mãos da PIDE) e na prisão de Montluc (Lyon), tristemente célebre por ser um local de encarceramento e tortura da Gestapo. O quarteto irá, aliás, atuar na prisão de Montluc em junho.
Quanto ao speed date com deputados, Rui Oliveira Marques explica que no primeiro ano até foi difícil convencer os deputados a aceitarem, mas que o evento acabou por ser um sucesso. Os eleitores acabaram por expor situações que foram “desde um problema mais pessoal de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, até matérias mais gerais.” Os deputados que vão marcar presença, na sexta-feira às 18h30, são Sandra Pereira (PSD), Susana Amador (PS) José Manuel Pureza (BE), Vânia Dias da Silva (CDS) António Filipe (PCP), José Luís Ferreira (Os Verdes) e André Silva (PAN).
No ano passado, o vídeo promocional do Festival – que tinha como tema a abstenção eleitoral – retratou temas como o chauvinismo, a homofobia e a xenofobia e tornou-se viral em todo o mundo, especialmente em França aquando das eleições presidenciais. O vídeo atingiu mais de 1 milhão de visualizações numa semana e foi usado por ativistas franceses que estavam contra Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon. Em Portugal, o PS e o PAN também o usaram na campanha das autárquicas.