O Sporting-FC Porto sempre foi um clássico, mas o termo ganha redobrado valor na presente temporada: entre o início de outubro e o meio de abril, esta será a quinta vez que leões e dragões se vão defrontar em três competições distintas. Neste caso, sem pontos em disputa mas com o passaporte para o Jamor à distância de 90 minutos (ou 120, em caso de prolongamento).
A 7 de fevereiro, e depois de dois nulos no Campeonato (em Alvalade) e na meia-final da Taça da Liga (em Braga, com triunfo dos verde e brancos nas grandes penalidades), os portistas conseguiram quebrar a “maldição” das balizas com um golo de Soares na segunda parte, que dá agora vantagem aos comandados de Sérgio Conceição para a segunda mão (mais tarde, na 25.ª jornada da Primeira Liga, os azuis e brancos ganharam no Dragão por 2-1). Dois meses e meio depois, o FC Porto continua na frente do Campeonato, o Sporting mantém o terceiro lugar a cinco pontos mas muita coisa mudou na realidade das duas equipas. E estas são as principais diferenças, entre a crise leonina e o clássico na Luz decidido ao minuto 90.
A crise (e redenção) em Alvalade no pós-derrota em Madrid
Se olharmos para os resultados do Sporting depois da derrota em Madrid, quase parece que esse resultado acabou por servir de “inspiração” para a retoma em termos de produção: os leões ganharam ao P. Ferreira em Alvalade (2-0), tiveram uma das melhores exibições na receção ao Atl. Madrid (apesar da eliminação, com o 1-0 a ser curto para inverter a derrota por 2-0 na primeira mão) e somaram novo triunfo na deslocação ao Restelo (4-3). Hoje é complicado acreditar nos dias conturbados que se seguiram a esse jogo em Espanha, mas os mesmos deixaram feridas que, ainda que não sejam agora tão faladas, existem e continuam abertas. É também por isso que este clássico assume especial importância para os leões, que podem carimbar a passagem à final da Taça de Portugal numa temporada onde chegaram aos quartos da Liga Europa e já ganharam a Taça da Liga.
O balão de confiança que veio do clássico… para os dois lados
O golo de Herrera no último minuto do clássico na Luz com o Benfica colocou o FC Porto na frente do Campeonato e tendo vantagem direta sobre os encarnados, naquele que pode ter sido o encontro decisivo para encontrar o vencedor do título esta temporada. Os portistas ficaram depois a estagiar em Troia, com um ambiente naturalmente de confiança depois do resultado frente às águias, e partem para esta segunda mão da Taça de Portugal com a certeza de que um triunfo poderá não só levar a equipa à “dobradinha” mas também confirmar os dragões como conjunto mais forte entre “grandes” em 2017/18. Em paralelo, houve um outro dado curioso que saiu do clássico: numa altura em que já está fora das provas europeias, a derrota do Benfica deu outro ânimo ao Sporting, que passou assim a depender apenas de si para alcançar o segundo lugar na Liga.
O regresso de Marega e a ausência de William Carvalho
O clássico na Luz foi marcado pelo regresso de Marega à competição quase um mês e meio depois de paragem por lesão muscular. O maliano não marcou (apesar de ter desperdiçado duas boas oportunidades), mas notou-se uma diferença no jogo do FC Porto, com uma maior exploração da profundidade e o regresso às nuances táticas no jogo que tão depressa colocam os dragões num 4x4x2 clássico como transformam a equipa num 4x3x3, com um dos alas a jogar mais por dentro e o avançado a descair mais sobre a direita. Sérgio Conceição ganhou aí o seu trunfo (que tanto pode ser titular como entrar no decorrer da partida, o que pode fazer ainda mais mossa na defesa contrária pela capacidade de explosão), Jorge Jesus continua sem o seu: apesar das boas exibições de Battaglia como ‘6’, o Sporting tem outro critério de saída na primeira fase de construção quando William Carvalho está em campo, além de dar outra margem a Bruno Fernandes no plano ofensivo. E o médio vai falhar também o clássico.
Os três centrais (que não se repetem), os dois avançados e outras nuances
Jorge Jesus tem tentado surpreender Sérgio Conceição nos clássicos esta temporada e, entre o modelo clássico com Bruno Fernandes nas costas de Bas Dost, a colocação do médio a ‘8’ e os três centrais, leva 360 minutos com dois empates (um deles transformado em vitória nas grandes penalidades, na meia-final da Taça da Liga), duas derrotas e nenhum golo marcado. No jogo da primeira mão da meia-final da Taça de Portugal, a opção recaiu em Piccini como terceiro defesa/central e a dupla Ristovski-Fábio Coentrão a fazer as alas, um cenário que teve grande resultado com o Atl. Madrid (neste caso, com Acuña na esquerda como lateral/ala) mas que não deverá ser repetido tendo em conta a condição física de André Pinto e Mathieu. Do lado dos dragões, e com toda a artilharia à exceção de Danilo Pereira pronta para ir a jogo, a opção pelos dois avançados deve manter-se, restando apenas saber como está Marega em termos físicos para se perceber se será ou não titular. Uma coisa é certa: contra uma das equipas que mais golos marca de bola parada e em lances pelo ar, os leões ficarão mais expostos na defesa.