A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) quer ter “política comum” na luta antidopagem e combinação de resultados desportivos e ser uma “voz única” junto de organizações internacionais, defenderam esta sexta-feira fontes oficiais na cidade da Praia.

O desafio foi lançado na sessão de abertura do primeiro seminário da CPLP de luta contra o doping e combinação de resultados desportivos, promovido pela Organização Nacional Anti-dopagem (ONAD), em parceria com a Direção Geral dos Desportos (DGD) de Cabo Verde.

“Neste tempo de escassez, em que todos querem ganhar a qualquer custo e o desporto é uma indústria apetecível, é fundamental os Estados posicionarem-se como os guardiões de um desporto limpo, de valor e com ética”, afirmou o ministro do Desporto cabo-verdiano, Fernando Elísio Freire, que presidiu à sessão de abertura do seminário.

O governante disse que Cabo Verde estará “na linha da frente” na CPLP para defender o desporto limpo, ter uma “voz única” e capacidade para “influenciar como um todo” em várias outras organizações internacionais.

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“Se há instrumento poderosíssimo para termos uma CPLP cada vez mais importante, cada vez mais como uma comunidade de povos, é o desporto. Mais do que qualquer reunião, encontro de ministros ou de Presidentes da República, o desporto tem algo fundamental: paixão, garra, determinação, valor. E são nesses valores que temos que agarrar para elevarmos o nome dos nossos países e da nossa comunidade”, reforçou Fernando Elísio Freire.

O presidente da ONAD-CV, Emanuel Passos, disse que o seminário é o início de um “novo ciclo” na luta antidopagem na CPLP, com mais cooperação e onde cada um dos países-membros será defendido juntos das instituições internacionais. Para isso, considerou que é preciso uma “política comum” na comunidade de combate ao doping, feita à medida das necessidades e capacidades de cada autoridade nacional antidopagem.

“Precisamos de criar um bloco lusófono forte, uma voz única, uma política antidopagem unificada. Isso será importante para o fortalecimento das nossas relações com a agência mundial antidopagem”, defendeu Emanuel Passos.

Considerando que “não faz sentido que cada país-membro faça o percurso sozinho” nesta matéria, o dirigente desportivo cabo-verdiano sugeriu ainda a criação de um programa de educação e formação antidopagem comum na comunidade lusófona.

Paulo Fontes, representante da secretaria-geral da conferência dos ministros da juventude e desporto da CPLP, disse que vê “com muito entusiasmo” os desafios lançados por Cabo Verde, considerando que a luta antidopagem só terá sucesso se houver colaboração de todos os países.

Sublinhando que os países lusófonos estão em estádios diferentes de desenvolvimento, Paulo Fontes referiu que todos têm a ganhar com mais cooperação e uma abordagem integrada, sobretudo na educação e sensibilização sobre o doping no desporto.

“Esta voz comum dá-nos mais capacidade de influenciar e de intervir nos fóruns internacionais”, disse o representante da CPLP, em declarações à agência Lusa. Paulo Fontes lembrou que a dopagem e a combinação de resultados desportivos são fenómenos transnacionais e que envolvem “interesses económicos grandes”, pelo que reforçou a importância de os países estarem organizados para combater esses flagelos.

O seminário reúne, até domingo, na cidade da Praia, dirigentes, atletas, treinadores, estudantes, professores de educação física e outros agentes desportivos para debater a situação da dopagem e combinação de resultados no desporto na CPLP.

Pretende-se ainda criar um perfil de competências a desenvolver na formação dos responsáveis e capacitá-los para a realização de controlos em e fora de competição e clarificar a lista de substâncias e métodos proibidos, bem como os seus efeitos na integridade física dos atletas.

Do programa dos trabalhos constam ainda a apresentação das ações em países parceiros e colaboradores potencialmente relevantes e interessados e haverá uma mesa redonda sobre o estado de desenvolvimento da luta contra o doping na CPLP. O seminário conta com participantes de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, Portugal e São Tomé e Príncipe.