O governo da Arménia anunciou esta segunda-feira a nomeação de um primeiro-ministro interino na sequência da resignação do novo chefe do executivo nomeado pelo parlamento, mas que estava a ser contestado há 11 dias consecutivos em manifestações da oposição. Um comunicado emitido esta segunda-feira indica ter sido solicitado o regresso do antigo primeiro-ministro Karen Karapetian, que renunciou às funções que mantinha desde 2016 quanto o antigo Presidente Serge Sarkissian foi designado para o cargo na semana passada.
Sarkissian demitiu-se esta segunda-feira na sequência dos intensos protestos antigovernamentais. A oposição encarava a designação de Sarkissian como uma tentativa de reforçar o seu poder após abandonar a presidência do país com a conclusão dos seus dois mandatos e a adoção de um novo sistema de governo, que fornecia mais poderes ao primeiro-ministro e poderia garantir-lhe um poder vitalício. Karapetian já ocupou o cargo de presidente da câmara de Erevan, a capital desta ex-república soviética do Cáucaso, e durante cinco anos foi um executivo da Gasprom, a poderosa companhia estatal de gás russa.
“Deixo o cargo de dirigente do país”, declarou esta segunda-feira Serge Sarkissian, num comunicado publicado na sua página oficial na internet. “Nikol Pachinian [o chefe da contestação e deputado] tinha razão. E eu enganei-me”, acrescentou Sarkissian, que se fez recentemente designar primeiro-ministro, após ter ocupado dez anos a Presidência da Arménia.
A decisão de Sarkissian ocorreu pouco após a libertação do líder da contestação antigovernamental na Arménia, detido no domingo durante uma manifestação na capital. Rodeado de apoiantes que brandiam bandeiras arménias, Pachinian juntou-se a milhares de pessoas que desfilavam esta segunda-feira em protesto contra a recente nomeação do ex-Presidente Serge Sarkissian para o cargo de primeiro-ministro, segundo as imagens.
O ex-Presidente terminou o seu segundo mandato e conseguiu manter-se no poder ao ser eleito na terça-feira primeiro-ministro pelo parlamento, após uma controversa revisão constitucional que retirou poderes ao chefe de Estado e reforçou as atribuições do executivo. A designação de Serge Sarkissian segue-se à tomada de posse, em 09 de abril, do novo Presidente arménio Armen Sarkissian, com o mesmo nome de família do seu antecessor, mas sem ligações de parentesco.
Armen Sarkissian, 64 anos, prestou juramento perante o parlamento deste pequeno país do Cáucaso, após ter sido eleito pelos deputados para a chefia do Estado no início de março. Por sua vez, Serge Sarkissian, antigo oficial do exército e considerado “pró-russo”, ocupava o cargo de Presidente desde 2008, após as funções de primeiro-ministro em 2007-2008. A sua primeira vitória presidencial originou confrontos entre manifestantes e forças policiais que provocaram dez mortos. Em 2013 garantiu um segundo mandato.
Desde 13 de abril que decorriam protestos em Erevan, para denunciar a intenção do antigo Presidente de permanecer no poder. Na segunda-feira passada, dezenas de pessoas ficaram feridas durante novos confrontos entre a polícia e manifestantes. Os últimos grandes protestos na Arménia remontam a julho de 2016, quando opositores que exigiam a demissão do governo fizeram diversos reféns numa esquadra policial em Erevan. Os apoiantes desta ação envolveram-se na ocasião em violentos confrontos com as forças policiais.