A Audi apostou num cenário tipo James Bond para revelar, em antestreia, os seus novos modelos. Num pavilhão gigante localizado num lugar ermo, onde muito provavelmente deve estar instalado um estúdio de fotografia e de vídeo de uma empresa que trabalha para a marca, o construtor alemão convida um número reduzido de representantes de cada país, tira-lhes os telemóveis – nada à bruta, antes pelo contrário –, analisa-os com a curiosidade de quem quer tirar a limpo se os óculos que envergam não serão daqueles com câmara, e convida-os a entrar em contacto com o novo produto. Foi assim há cerca de uns meses com o A6, repetindo-se agora com o A6 Avant, a carrinha da gama que vai chegar ao nosso país em Setembro.
Cenários de espiões à parte, o que até se justifica, pois de contrário seria quase impossível garantir que todos os convidados respeitassem a data de embargo acordada para publicação, esta forma de apresentar à imprensa novos modelos até funciona, especialmente por permitir discussões demoradas com os técnicos do fabricante sobre as diversas características do veículo, especialmente com Helmut Jung, o responsável pelas formas da nova carrinha.
Um estilo cada vez mais desportivo
A Audi está consciente que há cada vez mais clientes a mostrar preferência por SUV e daí que lhes ofereça toda uma família de modelos, do Q2 ao Q7. Mas continua a acreditar que existe mercado para modelos práticos e versáteis, como as carrinhas que, por serem mais leves e possuírem um centro de gravidade mais baixo, garantam um comportamento não só mais eficaz, como também mais desportivo e divertido para quem gosta de conduzir. É exactamente para estes consumidores que a nova Avant foi concebida.
Ao ser a primeira Avant a ser apresentada desde que a Audi inaugurou a nova linguagem estilística, que estreou com o A8 e depois prolongou com o A7 e A6 berlina, a nova A6 Avant redobra de importância. E, se é evidente que recorre à nova grelha singleframe, maior, mais moderna e agressiva, salta igualmente à vista o pilar traseiro do tejadilho mais inclinado, como que a reforçar o carácter dinâmico do modelo. De destacar ainda os novos faróis à frente e atrás, obviamente de LED, mas com uma assinatura luminosa mais ousada, com os posteriores a surgirem ligados por uma barra cromada (que permanece mesmo nas versões desportivas em que o cromado é substituído por preto mate), mais uma vez para ajudar a tornar o modelo mais largo. Mas o mais curioso foi a atenção ao detalhe a que se deram os estilistas da Audi, com Jung a chamar-nos a atenção para os ligeiros alargamentos dos guarda-lamas, em homenagem aos que caracterizavam os Audi Quattro e Quattro S1.
Questionado sobre se a opção de favorecer o ar dinâmico da A6 Avant beliscou o volume interior, Helmut Jung não teve dúvidas:
A tónica no espírito desportivo foi conseguida à custa de pequenas alterações, como os blisters nos guarda-lamas e o pilar traseiro mais inclinado, por um lado, e a quantidade de carro que há para além dos eixos da frente e traseiro. Mas nada disso impede que a A6 Avant oferece a mesma capacidade de mala da sua antecessora, para mais sendo mais fácil de arrumar ao ter uma boca mais larga.”
Ainda em relação ao estilo exterior, não deixámos de procurar perceber a razão pela qual vários sensores são bastante visíveis na frente do A6. “Como era praticamente impossível escondê-los a todos, optámos por deixá-los mais ou menos evidentes, para reforçar a imagem tecnológica do modelo”, explicou Jung.
Mais requinte por dentro
Entrar na A6 Avant é tão fácil quanto cómodo, pois até um smartphone permite destrancar a porta. Uma vez lá dentro, a carrinha parece uma versão ligeiramente mais pequena do imponente A8. O painel de instrumentos completamente digital, capaz de ser personalizado à vontade de cada condutor, é similar, tal como o é o tablier e, especialmente, a solução com dois ecrãs digitais e tácteis ao centro, um por cima do outro. Também estes são personalizáveis – tal como o resto a bordo, permitindo formatar até sete utilizadores distintos – e se o superior está mais vocacionado para a condução e o infoentretenimento, o inferior, além de uma teclas virtuais para acessos directos, trata sobretudo da ventilação.
Há cinco níveis de acabamentos interiores, sendo o S-Line o mais desportivo. Para evitar que o condutor tenha de desviar os olhos e a atenção da estrada, muitos dos comandos podem ser controlados por voz, com o condutor a manifestar o seu desejo e a assistente virtual a tratar prontamente de tudo.
O espaço para quem se senta atrás pareceu-nos maior (o fabricante anuncia 7 mm em comprimento e 9 mm em altura), talvez porque o modelo tem mais 1,2 cm entre eixos, ou porque os bancos, com um novo desenho e tipo de construção, oferecem mais espaço para alojar os joelhos de quem se senta no banco traseiro. Com os nossos 1,75 metros, até podíamos organizar um baile, mas mesmo quando recorremos a um técnico alemão bem mais alto (1,85 m), a cabeça continuava longe do tejadilho. E já que estávamos sentados atrás, foi impossível deixar de notar pormenores como o ar condicionado separado na traseira, com ionizador para tornar o ar mais puro, ou os fechos dos cintos iluminados, para tornar mais simples encontrá-los durante a noite.
Mas como carrinha que é, a bagageira da A6 Avant está condenada a ter uma utilização acima da média, especialmente quando comparada com as berlinas de três volumes, pelo que lá estão os 1.680 litros de capacidade, com o banco posterior rebatido, ideal quando pretendemos transportar bicicletas ou pranchas de surf, vendo-se reduzido a 565 litros com o tapa-bagagens no sítio – uma boa capacidade nas condições em que certamente mais ser mais utilizada.
Mais eficácia e mais gozo ao volante
Para satisfazer os clientes que fogem dos SUV por serem demasiado pesadões e altos, sobretudo quando se pretende conduzir mais depressa sem comprometer a eficácia e até a segurança, a Audi fez questão de dotar a sua A6 Avant com os necessários pergaminhos, que é como quem diz, tecnologia para torná-la mais desportiva. O principal argumento face à concorrência chega-nos pela mão do sistema de quatro rodas direccionais, que o modelo pode montar em opção e que é similar ao que já vimos no A8. Isto permite à A6 Avant ser mais ágil na cidade a baixa velocidade (quando as rodas posteriores viram na direcção contrária das anteriores), dada a capacidade de manobra da carrinha agora passar a aproximar-se da de um A3. Esta solução é ainda útil em estrada de montanha, pois também ajuda a descrever os ganchos com uma facilidade muito superior, com a marca a montar um diferencial mais desportivo nas versões quattro, para reforçar a agilidade.
A velocidade mais elevada, quando as rodas traseiras passam a virar no mesmo sentido das da frente, o A6 deverá voltar a brilhar e em várias situações, principalmente em piso molhado ou escorregadio, tanto nas manobras súbitas em auto-estrada, onde será mais fácil evitar perder o controlo sobre o veículo, como nas curvas mais rápidas, onde a nova Avant deverá parecer que roda sobre carris. Se a isto juntarmos suspensões reguláveis e adaptáveis, podendo ser pneumáticas caso o cliente o deseje, temos que não será fácil bater a A6 Avant em comportamento, decida o condutor conduzir mais depressa ou devagar.
Os motores ao serviço da nova carrinha vão ser todos mild hybrid, ou seja, usufruem da ajuda de um pequeno motor eléctrico para reforçar o motor principal de combustão, reduzindo assim os consumos e as emissões, com a unidade eléctrica a ser alimentada por um sistema a 48 volts, que inclui uma bateria. Sempre acoplados a caixas automáticas (Tiptronic ou Stronic, esta de dupla embraiagem), em termos de potência vão estar disponíveis motores entre 204 e 340 cv, pelo menos numa primeira fase.
Em matéria de denominações, mantém-se a estranha forma iniciada com o A8, sem qualquer relação com a cilindrada ou a potência. Assim, o A6 Avant 50 TDI é um diesel com um motor 3.0 V6 de 286 cv, enquanto o 55 TFSI corresponde a um 3.0 V6 a gasolina, com 340 cv, sendo que estas duas serão as primeiras motorizações a estar disponíveis, quando o A6 Avant chegar ao nosso país em Setembro. Na altura, será proposta também uma versão mais acessível, que vai montar o 2.0 TDI de 204 cv, sendo que a gasóleo vai ainda surgir o 3.0 V6 TDI com 231 cv.