Para manter a memória viva e para que não caia no esquecimento, o realizador Nicholas Oulman resgatou do passado a história de judeus que passaram por Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, num documentário que integra o IndieLisboa. “Debaixo do céu”, que é exibido na quarta-feira no festival de cinema independente, recupera os relatos de sete judeus que procuraram refúgio temporário em Portugal, porta de saída para o Ocidente, em fuga desde a Alemanha, onde foram perseguidos pelo regime Nazi durante a Segunda Guerra Mundial.

Nicholas Oulman, filho de uma família francesa judia fixada em Portugal desde 1920 e que ajudou outros refugiados, quis encontrar e ouvir os relatos pessoais de alguns desses sobreviventes, passados 70 anos. No trabalho de pesquisa, foram encontrados cerca de 20 sobreviventes, todos com mais de 80 anos e a maioria a residir nos Estados Unidos. No filme entram sete – Lolita Goldstein, Pedro Kalb, Henny Porter, Eva Arond, Fred Manasse, Sylvain Bromberger e Ginette Horowitz – que à época eram crianças.

“Estas pessoas têm uma visão sobre a vida que é incrível, porque depois daquilo que passaram em crianças tudo o que veio depois foi a cereja em cima do bolo. Alguns perderam a família toda, ficaram sem ninguém”, contou Nicholas Oulman à agência Lusa. O realizador quis fugir de um documentário convencional e montou um filme feito apenas de voz e imagens de vários arquivos, incluindo de Lisboa nos anos 1940. A identidade dos sobreviventes é revelada apenas no final.

“Eu queria mergulhar no passado e deixar que as vozes e o som nos guiem, e usar as imagens como complementaridade das histórias sem ser meramente ilustrativas, mas para criar um ambiente fantasmagórico, onírico e muito verdadeiro”, explicou. Para o documentário, recorreram a vários arquivos, entre os quais o do realizador norte-americano Steven Spielberg e o do Museu do Holocausto nos Estados Unidos, ao qual Nicholas Oulman doou as entrevistas completas feitas para o filme.

Setenta anos depois do Holocausto, das perseguições étnicas, da morte de milhões de pessoas, Nicholas Oulman espera que filmes como o seu possam dar a conhecer aquela realidade a novas gerações e possam manter a memória viva, para que não caia no esquecimento. “Na feitura deste filme, depois dos acontecimentos que vi nas notícias, parecia que não estava a mergulhar há 70 anos. Muitas vezes ligava o ‘Telejornal’ e via exatamente a mesma característica das imagens tinha pesquisado”, lamentou, referindo-se a vagas de nacionalismo, populismo e xenofobia.

No IndieLisboa, “Debaixo do céu” será exibido na quarta-feira e no domingo no cinema São Jorge. Nicholas Oulman é ainda autor das curtas “Stolen Hapiness” (1993) e “A little tenderness” (1995) e do documentário “com que voz” (2009), sobre o pai, Alain Oulman.

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