Há 103 condutores registados na plataforma Uber nos EUA que enfrentam acusações de abusos sexuais. Uma investigação da estação de televisão CNN descobriu estes casos, todos registados nos últimos quatro anos. São casos em que os condutores  — ou motoristas, como são habitualmente designados em Portugal, onde não há registo de situações semelhantes — foram detidos, estão a ser procurados pela polícia ou foram visados em processos judiciais abertos na sequência de queixas apresentadas pelas vítimas.

Um dos casos mais graves que a investigação revelou envolve uma mulher que recorreu ao serviço de transporte depois de uma saída à noite com uma amiga. Num relato na primeira pessoa, a vítima diz ter perdido os sentidos ao sair do bar. Acordou no dia seguinte, em casa, despida da cintura para baixo. O condutor terá realizado a viagem até casa da mulher, encaminhou-a para o interior e violou-a. Isto segundo alega a vítima no processo que colocou contra a empresa.

À polícia, o motorista disse recordar-se da mulher, sabia que ela estava sob efeito de álcool e que “o que tinha feito era errado”. Ainda assim, declarou-se inocente e está a aguardar julgamento.

A CNN detetou mais 102 casos ao ouvir os advogados que representam vítimas de situações em que há, no mínimo, registo de contactos não consentidos a passageiras por parte de condutores que operam sob a marca da Uber. Os relatórios da polícia, registos judiciais e as bases de dados de 20 diferentes cidades norte-americanas serviram de fonte de informação para a investigação jornalística. Nenhum dos casos foi divulgado ou confirmado pela empresa que desenvolveu a aplicação para transporte. A Uber diz que ainda está a analisar os dados de que dispõe sobre estes casos e prefere não falar sobre o assunto, para já.

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Dos 103 casos descobertos pela estação, 31 condutores já foram condenados em tribunal por crimes que vão desde a violação a contactos forçados por parte dos motoristas. Há, ainda, “dezenas” de processos à espera de decisão.

Um dos pontos centrais da investigação, a par dos próprios casos de abusos sexuais que envolvem os motoristas, incide no facto de a empresa publicitar os seus serviços como uma forma “segura” de transporte. Nos Estados Unidos, a Uber lançou-se junto do grande público com campanhas de publicidade em que se apresentava como a solução ideal para noites regadas a álcool. A mensagem era esta: se conduzir, não beba, peça um Uber. Os casos descobertos pela CNN, porém, mostram que foi precisamente numa situação de fragilidade devido ao consumo de álcool que as vítimas acabaram por se transformar em alvo para abusos.

A situação não é nova — nem sequer para a cúpula da empresa. Já este ano, a Uber foi acusada de tentar silenciar mulheres que alegavam ter sido vítimas de abusos por parte de motoristas que operavam no âmbito da empresa, com casos que acabaram relatados pelo Guardian.

Por outro lado, a Uber diz que quer estar do lado da solução. Foi criado um botão de emergência a que os utilizadores podem recorrer e foram reforçadas as mensagens internas de consciencialização. Desde dezembro de 2016 que os motoristas são alertados para o facto de não serem permitidos contactos sexuais com os utilizadores. Há cerca de uma semana, a empresa também difundiu um vídeo que sublinha a mesma mensagem.