A prática não tem absolutamente nada de novo: quando o presidente dos EUA se encontra com outro líder político, os serviços de informações norte-americanos fazem o trabalho de casa e preparam um relatório com um perfil do interlocutor, para que o chefe da maior potência mundial esteja preparado para esse frente-a-frente. Essa, pode dizer-se, é a tradição.

Mas como é que se cumpre a tradição quando, do outro lado da mesa, estará — tudo aponta para que o encontro histórico vá mesmo acontecer — o líder de uma das potências mais fechadas do mundo? Um líder com que poucas pessoas tiveram contacto direto e, dessas, menos ainda são as que os EUA podem contactar diretamente. Aí, vale tudo: desertores da Coreia do Norte, certo; um secretário de Estado e ex-diretor da CIA, também parece natural; mas há também diplomatas, chefes de Estado, um jogador de basquetebol e até um chef de cozinha.

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A missão dos serviços norte-americanos é particularmente relevante porque está em causa um dos encontros mais sensíveis entre um presidente dos EUA e outro líder mundial. Depois do encontro da semana passada com o presidente da Coreia do Sul, as autoridades norte-coreanas — citadas por fontes de Seul — abriram a porta a uma desnuclearização de Pyongyang já em maio. Mas, agora, é preciso ir além das palavras. Será esse o grande foco de Trump. Depois, então, poderá ponderar-se a pacificação total das relações entre os dois Estados da península coreana.

É por isso que o presidente dos EUA conta ter um perfil tão completo quanto possível de Jong-un — para ter vantagem negocial quando os dois se encontrarem pessoalmente, descreve a Reuters. Os serviços contam ouvir todos aqueles que tiveram acesso ao círculo mais restrito do norte-coreano, a começar por Mike Pompeo.

Há duas semanas, o secretário de Estado e antigo diretor da Central Inteligente Agency (CIA) esteve em Pyongyang para um encontro privado com Jong-un. “Um tipo esperto que está a fazer o trabalho de casa”, terá descrito o responsável norte-americano em privado, de regresso a Washington.

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Dennis Rodman, o ex-basquetebolista que se encontrou por diversas vezes com o líder norte-coreano, é provavelmente um dos norte-americanos com maior acesso a Jong-un. É uma das pessoas que os serviços de informações estão interessados em ouvir, numa lista que ainda inclui, de acordo com a Reuters, antigos colegas de Kim na Suíça (onde o líder coreano estudou), um chef de sushi que trabalhou diretamente para o governante e, ainda, enviados sul-coreanos a Pyongyang. Pode ser o caso do próprio presidente da Coreia do Sul, que se reuniu longamente com o homólogo do norte na semana passada.

“Há um esforço robusto do Governo [dos EUA] em curso para preparar a cimeira do Presidente” Donald Trump, limitou-se a dizer uma fonte oficial da Casa Branca, quando questionada sobre o que estava a ser feito para preparar o encontro ainda sem data fechada.