O problema repete-se. O ano passado, quando as escolas receberam o guião para as provas de aferição do 2.º ano de Expressões Físico ou Motoras (vulgo Educação Física), perceberam que um dos materiais pedidos — o banco sueco — existia em muito poucos estabelecimentos de ensino. A corrida ao banco sueco foi tanta que em muitos sítios do país ele esgotou. Este ano, a lista de material volta a dar problemas — as escolas têm falta de plintos e espaldares — mas o que preocupa os professores de Educação Física é uma nota de rodapé que surge no guião da prova: quem não tiver espaldar pode substituí-lo por material idêntico. Com esta troca, os resultados não serão fiáveis, diz Avelino Azevedo, presidente do CNAPEF — Conselho Nacional das Associações de Professores e Profissionais de Educação Física.

“Não estou a ver como se possa fazer isto. Um espaldar é um espaldar e não pode ser substituído por outro material. Se for, os resultados das provas de aferição não vão ser fiáveis por que vamos ter alunos a fazerem o mesmo exercício com ferramentas diferentes. E não podemos comparar o incomparável”, explica ao Observador Avelino Azevedo.

O único outro material que o professor de Educação Física imagina que possa substituir o espaldar é eventualmente a corda de saltar de sisal. Mas não é a mesma coisa, garante, fazer um exercício de suspensão com um ou com outro.

“Tudo vai depender do tipo de exercício que estiver previsto na prova, e isso ainda não sabemos qual é. Mas imagine que é preciso fazer uma escalada ou trepar. Fazer isso num espaldar ou numa corda que está pendurada ao tecto não é a mesma coisa. E se alguns alunos não teriam problemas em subir o espaldar, poderiam tê-lo ao tentar trepar por uma corda, que tem outro tipo de dificuldade”, assevera Avelino Azevedo.

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Surpreendido com esta alínea que surgiu nos guiões da prova, o presidente da CNAPEF pode apenas especular se o objetivo era o de travar uma corrida aos espaldares, como aconteceu no último ano letivo com os bancos suecos.

É uma boa pergunta, claro que pode ser isso, mas é impossível saber o que levou o IAVE [Instituto de Avaliação Educativa] a pôr lá aquela alínea”, ressalva Avelino Azevedo, dizendo ser frontalmente contra a esta decisão.

Por tudo isto, o professor garante que está em risco a análise dos resultados nacionais desta prova de aferição, já que — volta a insistir — se dois alunos fizerem o mesmo exercício com um espaldar ou com uma corda não se pode considerar que o exercício foi o mesmo.

No entanto, esta distinção de material não vai aparecer nos resultados e não haverá forma de perceber quem fez o exercício com o quê quando se estiverem a comparar os resultados entre escolas. “E isto põe em causa a fiabilidade das provas e dos resultados nacionais que vamos ver no final”, assevera.

Em causa, diz, está também a forma como a Educação Física está a ser dada aos alunos do 1.º Ciclo. “Isto vem, mais uma vez revelar as fragilidades que existem nas escolas e para as quais nós temos alertado. Com esta questão se vê que parte do material necessário para dar a disciplina não existe nos agrupamentos escolares”, assegura o professor.

Esta quarta-feira arrancou a época das provas de aferição com cerca de cem mil alunos do segundo ano do Ensino Básico a serem chamados para fazer as provas de Expressões Artísticas e Expressões Físico-Motoras, obrigatórias para o 2.º, 5.º e 8.º ano de escolaridade.

As próximas provas do segundo ano serão em junho e os alunos serão testados a Português, Matemática e Estudo do Meio. As provas do 5.º e do 8.º ano começam a 21 de maio, com Educação Musical, Educação Visual e Tecnológica, e Educação Física. Em junho, os estudantes serão chamados a realizar as provas de Português e Matemática.