O acordo que Donald Trump e a sua administração tanto criticam e querem reverter — foi “construído com base em mentiras”, disse recentemente o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo — foi “uma vitória diplomática importante”, defende António Guterres. Em entrevista à BBC, o presidente da Organização das Nações Unidas (ONU) apelou a Trump para não rasgar o acordo de desnuclearização do Irão, celebrado em 2015 entre este país e potências como os EUA, Reino Unido, Rússia, França, China, Alemanha e restantes países da União Europeia.

Este acordo foi uma conquista importante. Se um dia existir um acordo melhor pelo qual ele possa ser substituído, tudo bem, mas não o devemos descartar sem que tenhamos uma boa alternativa”, disse Guterres.

“Os riscos [de um conflito militar] existem e temos de fazer tudo para os evitar. É importante preservar [o acordo]”, apontou o português, acrescentando contudo que acredita “que existem áreas” nesse acordo “onde é muito importante ter um diálogo significativo, porque na minha perspetiva aquela região está numa posição muito perigosa. Compreendo as preocupações” norte-americanas, disse ainda.

Donald Trump tem sido um dos maiores críticos do acordo de 2015 para a desnuclearização do Irão, em que o país concordava limitar o seu programa nuclear em troca do levantamento de sanções diplomáticas que lhe haviam sido aplicadas. A posição de Guterres parece coincidir com a do presidente francês Emmanuel Macron, que, depois de um encontro com Trump em solo americano, defendeu que o Irão não deve nunca ter em sua posse armas nucleares mas que o acordo de 2015 deve ser trabalhado e melhorado, tornado “mais abrangente” mas não “não abandonado sem ter algo mais substancial”.

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O Irão já avisou os Estados Unidos da América que, se Trump decidir rasgar o acordo celebrado em 2015 (que o presidente norte-americano considera “fraco” e que já ameaçou abandonar), irá retomar o seu programa nuclear.

A tensão internacional tem-se acentuado nos últimos dias, sobretudo depois de as autoridades israelitas acusaram o Irão de estar a produzir armamento nuclear, de forma secreta e paralela às diretrizes do acordo de 2015 — algo que foi negado pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), que apontou não existir “qualquer indicação credível de atividades no Irão relacionadas com o desenvolvimento de armas nucleares após 2009”.