A norte-americana Tesla anunciou na noite de quarta-feira que teve vendas recorde no primeiro trimestre (3,4 mil milhões). Contudo, a empresa teve, também, os prejuízos mais elevados da sua história: 785 milhões de dólares, cerca de 650 milhões de euros. As ações derraparam durante a noite, não tanto pelos resultados mas por uma teleconferência com analistas que não caiu bem: Elon Musk respondeu a um analista, por exemplo, que não queria responder a questões sobre um indicador financeiro crucial — a margem bruta — por serem perguntas “aborrecidas”.

Primeiro, os números: receitas de 3,4 mil milhões de dólares, melhores do que os 3,2 mil milhões previstos, em média, pelos analistas (ou seja, vendas maiores do que o esperado — e um recorde). Prejuízos de 785 milhões de dólares, também um recorde. E os recursos acumulados pela Tesla também estão a tornar-se mais exíguos: eram 3,4 mil milhões, agora os prejuízos baixaram esse valor para 2,7 mil milhões.

A julgar pela negociação pós-mercado, as ações da Tesla vão abrir em queda e baixar para menos de 300 dólares (o máximo histórico tocado em setembro de 2017 foi de quase 390 dólares). Mas o problema nem são os dados financeiros, em que as receitas até surpreenderam pela positiva. A razão para a queda das ações, escreve a imprensa especializada norte-americana, está ligada ao sabor amargo que ficou na boca dos analistas que participaram numa teleconferência “bizarra” com Elon Musk para falar sobre os resultados.

Um dos principais analistas da Tesla, Toni Sacconaghi, da Bernstein Research, perguntou a Elon Musk qual era a perspetiva da empresa para a evolução da margem bruta, um dos indicadores mais importantes para seguir de perto numa empresa como a Tesla. O presidente da empresa descartou a pergunta, considerou-a “aborrecida” e preferiu responder a várias perguntas colocadas por um youtuber entusiasta da Tesla, Gali Russell.

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Desculpe, desculpe, próxima pergunta. Perguntas aborrecidas, desmioladas não são fixes“, terá respondido Elon Musk a um analista que lhe perguntou sobre a margem bruta da Tesla, segundo a CNBC. “Vamos passar para as perguntas vindas do Youtube, estas perguntas são muito secas, estão a matar-me“, afirmou o presidente da Tesla.

Elon Musk acabou por partilhar um dado importante para os analistas: o cumprimento das metas de produção do Model 3. Musk afirmou que produziu 2.270 exemplares desse modelo crucial, na última semana de abril. As encomendas que existem para esse modelo, adiantou a empresa, superavam as 450 mil no final de abril.

Sobre os resultados empresariais, ElonMusk disse pouco mais do que garantir que estava “bastante confiante de que será possível ter um cash flow positivo a partir do terceiro trimestre. Não é uma certeza mas é algo que tem uma probabilidade grande, na minha opinião”. Musk adiantou que vai haver uma “reorganização e uma reestruturação da empresa” para se atingir esse objetivo. Isso irá passar, designadamente, por reduzir o número de empresas externas que estão a fornecer materiais e/ou serviços à Tesla.

Uma analista que falou com a CNBC disse que ficou “muito frustrada” com o conteúdo da teleconferência e ficou com vontade de dizer a Elon Musk para “crescer”. “Elon, tu tens de crescer, tens de parar de mirar objetos brilhantes e encarreirar”, disse a analista, num programa da CNBC, simulando aquilo que gostaria de poder ter dito a Musk caso tivesse tido oportunidade. Mas esta e outros analistas sentiram-se barrados de uma teleconferência que Elon Musk quis que fosse aberta — “crowdsourced” — a mais do que os comuns analistas financeiros.