O realizador Sérgio Tréfaut estreia no domingo, no encerramento do IndieLisboa, a longa-metragem “Raiva”, um filme sobre poder e pobreza, que recua ao Alentejo nos anos 1950, a partir de um romance de Manuel da Fonseca. “É um filme completamente fora de moda. Porque hoje em dia o assunto social relacionado com justiça social, ou com pobreza e com o abuso de poder por parte de quem tem dinheiro, está completamente fora de moda”, afirmou Sérgio Tréfaut à agência Lusa.

No entender do realizador, atualmente predomina o interesse por questões identitárias, raciais, sexuais, mas “a questão social e a pobreza não interessa a ninguém”, mesmo que subsistam. “Raiva” é uma adaptação do romance “Seara de vento”, que Manuel da Fonseca publicou em 1958 – inspirado numa tragédia ocorrida nos anos 1930 no Alentejo – e que esteve interdito pelo Estado Novo até 1974.

Considerado uma das obras mais importantes da literatura neorrealista portuguesa, o livro constrói-se nessa luta entre ricos e pobres, entre quem possui terra e quem a trabalha, e centra-se no drama de uma família atingida pela pobreza e pela injustiça. Sérgio Tréfaut chegou ao romance porque queria entender melhor o que foi o Alentejo, quando estava a preparar o documentário “Alentejo Alentejo” (2014).

Manuel da Fonseca “escreveu um romance que, sendo bastante seco também é épico e é um retrato da sua paixão por ‘westerns’. Não acredita no herói individual, mas dentro de um universo neorrealista e comunista tinha como moral ‘vota PCP'”, afirmou o realizador. Para o filme, Tréfaut interessou-se sobretudo pelas questões de pobreza e injustiça social que se repetem sistematicamente. “Esses problemas existem e terão sempre de ser resolvidos, independentemente de alguém vir e dizer que a solução está encontrada”.

Conhecido sobretudo pelo trabalho em documentário, Sérgio Tréfaut assina aqui a segunda longa-metragem de ficção, depois de “Viagem a Portugal” (2011), e para o elenco convocou Hugo Bentes, Isabel Ruth, Leonor Silveira, Rita Cabaço, Kaio César, Adriano Luz, Lia Gama, entre outros.

“Raiva”, uma coprodução entre Portugal, Brasil e França, só deverá estrear-se nos cinemas no final deste ano. Em abril foi distinguido no Festival de Cinema de Moscovo com o prémio da Federação de Cineclubes da Rússia e com o prémio do jornal Kommersant. Sérgio Tréfaut volta ao festival IndieLisboa, onde foi distinguido em 2014 com “Alentejo, Alentejo” e em 2004 com “Lisboetas”, ambos documentários.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR