Tinham de pedir autorização para ir à casa de banho. Às refeições, permaneciam de pé ao lado da mesa e tinham de esperar até que os pais dessem ordem para se sentarem e comerem. São algumas memórias que essa tia, Elizabeth Flores, guarda do tempo em que viveu com a irmã, Louise Turpin, e com o cunhado, David Turpin, enquanto andava na universidade, no Texas — onde os Turpin viveram até 2010, até se mudarem para a Califórnia. Agora, quase quatro meses depois de se ter descoberto que os pais mantinham os 13 filhos em cativeiro, Flores traduziu essas memórias num livro. Intitulado “Sisters of Secrets”, o livro vai estar disponível já a partir da próxima terça-feira, 8 de maio.

Embora garante que nunca viu sinais de agressões físicas nas crianças, Flores recorda que os seus sobrinhos estavam proibidos de falar com a tia a não ser que a mãe, Louise, estivesse presente. Louise fechava os filhos nos quartos quando a tia tentava brincar com eles e argumentava que era uma forma de proteção.

Se perguntava se podia brincar com eles, ela [Louise Turpin] dizia-me que não e fechava-os nos quartos. Ela dizia que era para os proteger de mim, que não queria que eles fossem contagiados pelas minhas maneiras. Sentia-me mal porque pensava que eles eram sequestrados por minha causa”, revela a tia no livro, citado pela revista People.

Flores falou ainda sobre o distanciamento entre os filhos e os pais. “Durante o tempo todo que vivi com eles, nunca os vi dar um beijo [aos filhos], revela no livro, acrescentando: “Nunca uma vez vi simplesmente a pegar-lhes ao colo. Nunca uma vez os vi ler um livro, nunca os vi deitá-los na cama”.

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Mas as regras da casa não se limitavam às crianças. Flores escreve que também a ela não lhe era permitido ter amigos durante os meses em que morou com os Turpins. “Louise era uma pessoa muito particular”, descreve. “Ela não queria que eu tivesse amigos enquanto morava lá, porque também não permitia que seus filhos tivessem amigos. Eu apenas achava que eles eram muito rigorosos”, conta.

Esta não é a primeira vez que Flores fala sobre o caso. Quatro dias depois de ter sido descoberto, a tia dos 13 filhos do casal Turpin deu uma entrevista ao programa “Good Morning America” do canal ABC News. “Ele [David] fez coisas que me deixaram desconfortável. Se eu ia tomar banho, ele ia lá e via-me a tomar banho. Era como uma piada. Mas ele nunca me tocou, nem nada”, contou Flores na altura.

“Ele via-me a tomar banho”. Os relatos de familiares e vizinhos das 13 crianças acorrentadas pelos pais

Os pais continuam em prisão preventiva. Na última audiência, no final de fevereiro, foram acusados de mais três crimes de abuso de menores. A mãe foi ainda acusada de um crime adicional de agressão. O casal já estava acusado de 12 crimes de tortura, sete de abuso contra um adulto dependente, seis de abuso de menores e 12 anos de falso sequestro. David estava também acusado do crime de um “ato obsceno” contra  “uma das crianças”. Segundo o procurador responsável pelo caso, Mike Hestrin, David terá tocado “inapropriadamente” numa das filhas menores de 14 anos.

Quase quatro meses passaram desde que a polícia abriu as portas da casa dos horrores. O que se segue? No próximo dia 14 de maio, está agendada uma audiência preliminar, que determinará se há provas suficientes para justificar um julgamento. O casal enfrenta uma pena que pode ir “até 94 anos de prisão”, se forem condenados. O valor da fiança é de 13 milhões de dólares (cerca de 10,3 milhões de euros) a cada um dos pais — que estão proibidos de contactar os filhos.