O presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros e Segurança Nacional do Parlamento do Irão, Alaeddin Boroujerdi, disse numa conferência de imprensa em Lisboa que Teerão não está disposto a abrir mão do seu programa de mísseis balísticos, que foi uma das razões enunciadas por Donald Trump para retirar os EUA do acordo nuclear.

“Achar que nós podemos restringir o programa de mísseis é uma anedota de Donald Trump”, disse Alaeddin Boroujerdi numa conferência de imprensa na residência oficial do embaixador do Irão em Portugal, um dia depois de ter estado reunido com a Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas na Assembleia da República.

“Nós temos um acordo feito entre seis países e que resultou de anos de conversas que levaram a uma conclusão. Se Trump estão tão preocupado, então podia assinar o TNP [Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares]”, disse.

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“A capacidade de o Irão desenvolver mísseis não é negociável. Somos um país que sofreu oito anos de guerra”, disse, em alusão à guerra entre o Iraque e o Irão, entre 1980 e 1988. “Se não tivermos capacidade para defender o nosso país, é certo que outro louco como Saddam Hussein vai invadir o nosso país outra vez.”

Alaeddin Boroujerdi, que foi eleito deputado pela ala conservadora, referiu ainda as perspetivas de o acordo nuclear ser continuado entre os restantes países que dele fizeram parte — além do Irão, está a França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China. Se a participação da Rússia e da China não parece estar em causa, Alaeddin Boroujerdi aludiu à possibilidade de aqueles países europeus cederem à “pressão” dos EUA.

“Certamente vai existir uma pressão por parte dos EUA à Europa. Como a Europa vai resistir a essas pressões será uma prova histórica que a Europa terá de demonstrar”, sublinhou, para depois exigir provas desse comprometimento. “Garantia não é só um papel, precisamos de ações práticas. Espero que a Europa saia bem da prova histórica que tem pela frente.”

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Alaeddin Boroujerdi, que foi eleito deputado pela ala conservadora, reagiu ainda às notícias que apontaram para uma troca de agressões militares entre o Irão e Israel na Síria. Na noite de quarta-feira, Israel queixou-se de ter sido atingida por 20 rockets iranianos nos montes Golã. Depois, como resposta, garantiu ter atacado 35 posições iranianas dentro da Síria. O ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, disse que Israel atingiu “quase todas as infrastruturas iranianas na Síria”.

Segundo o deputado iraniano, os ataques israelitas visaram apenas posições sírias. “Isto não tem nada a ver connosco”, sublinhou, referindo ainda assim que o seu país condena este ataque à Síria, que o Irão auxilia militarmente na guerra civil que se prolonga desde 2011. “O objeivo principal deste ataque, que foi apoiado pelos EUA, foi desviar a atenção mundial do gesto dos EUA”, referiu o deputado conservador.

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