À Tesla, é forçoso atribuir os louros de ter provado que os automóveis eléctricos eram possíveis, viáveis e, mais do que tudo, “cool”. E o fabricante americano, que provou ser capaz de realizar aquilo em que nenhum dos grandes construtores mundiais acreditava, entre europeus, americanos, japoneses e coreanos, retirou da sua capacidade de inovar e surpreender as necessárias vantagens. Mas agora que os veículos eléctricos já não são um nicho, mas sim um mercado com potencial, de que todos querem uma fatia, importa saber como estão os gigantes da indústria a tentar responder à ainda pequena Tesla.

No final de 2016, segundo os dados recolhidos pela Ycharts, a Tesla era o construtor com maior valor no mercado, se considerássemos exclusivamente os americanos e o 4º no ranking mundial, atrás da Toyota, Daimler e Volkswagen, apesar destes construtores tradicionais representarem grupos de marcas e a Tesla apenas a si própria. Com a volatilidade da bolsa, o valor de qualquer marca está longe de ser estável e a Tesla não é excepção. Se em 2016 atingiu 58,7 mil milhões de dólares, hoje o seu valor ronda os 42 mil milhões de dólares, um valor ainda assim notável – a Tesla em 2013, quando iniciou a produção do Model S valia apenas 3,9 mil milhões de dólares –, que a coloca abaixo da GM, mas ao nível da Ford.

Para se ter uma ideia do empenho (e do investimento) realizado pelo fabricantes tradicionais para recuperar o atraso face à Tesla nos carros eléctricos, veja-se o que está a fazer o Grupo VW, que lidera globalmente em vendas. Com o objectivo de passar a oferecer 18 híbridos plug-in ainda este ano, em vez dos actuais oito, e sobretudo alimentar a frota de modelos 100% eléctricos que vai passar a oferecer a partir de Agosto (com o Audi e-tron), o grupo alemão garantiu o fornecimento de 150 GWh de baterias até 2025, o suficiente para alimentar 1,5 milhões de automóveis eléctricos, caso todos eles possuíssem uma capacidade de 100 kWh. Como o VW I.D. deverá oferecer versões de 40 kWh e 60 kWh, é fácil concluir que o valor de veículos envolvidos vai ser muito superior.

Mas todo este investimento tem um custo brutal, pelo que só em baterias, o conglomerado germânico colocou encomendas num total de 50 mil milhões de euros. Isto corresponde a cerca de 60 mil milhões de dólares, ou seja, muito mais do que a Tesla vale actualmente e mesmo mais do pico que atingiu em 2016 e 2017, antes de começar a sentir dificuldades em incrementar a produção do Model 3. O investimento do Grupo VW é mesmo superior ao da Ford, GM e da maioria dos fabricantes, estando mesmo muito próximo do valor da própria VW.

Contudo, estes valores anunciados pela VW têm um aspecto que parece preocupante e que se prende com o valor por kWh pago pelo construtor alemão. Numas contas rápidas, 150 GWh por 50 mil milhões de euros dá uma média de 333 euros por kWh de capacidade. Sucede que este valor é muito mais elevado do que actualmente pagam os concorrentes pelas suas baterias. A Renault/Nissan, que compra os packs de baterias a fornecedores exteriores, está ligeiramente abaixo dos 200 euros o kWh, para os seus Zoe e Leaf, enquanto a Tesla, que fabrica as suas próprias baterias – numa parceria com a Panasonic – anunciou ter atingido 150$/kWh (126 euros/kWh) em final de 2017. A VW, que já disse pretender produzir 500.000 packs de baterias por ano na sua fábrica de Braunschweig, tem aqui uma diferença substancial em termos de custos, de que será curioso conhecer as origens, tanto mais que nenhum fabricante chega à liderança do mercado, como a VW, a comprar mais caro do que a concorrência.

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