Uma dezena de utilizadores portugueses do Facebook descarregou a aplicação que permitiu aceder indevidamente a dados pessoais de milhares de portugueses, revelou a Comissão de Proteção de Dados, adiantando estar a acompanhar o caso junto do Reino Unido.

“Há um conjunto de portugueses, a partir de uma dezena, ou pouco mais do que isso, que preencheram o tal questionário [que permitiu o acesso indevido aos seus dados pessoais]. A partir do preenchimento desses dados houve, de facto, acesso [pela Cambridge Analytica] a dados de milhares de cidadãos portugueses”, disse à Lusa, em entrevista, a presidente da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), Filipa Calvão.

A rede social Facebook tem estado desde abril no centro de uma polémica internacional que envolve também a empresa Cambridge Analytica, acusada de ter usado sem consentimento dados de milhões de utilizadores da rede social para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores e favorecer a campanha do Presidente norte-americano, Donald Trump.

A CNPD disse que “está a acompanhar” a atividade da autoridade nacional de proteção de dados que assumiu a competência daquele processo, a do Reino Unido: “Estamos a acompanhar, e num contexto de não podermos nós ir ao Reino Unido ou Irlanda por razoes de soberania dos outros Estados”, disse Filipa Calvão.

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A CNPD vai na próxima semana ao parlamento, a pedido dos deputados, para prestar também esclarecimentos sobre este caso.

Filipa Calvão aconselha os utilizadores de redes sociais a terem “cuidado” quando descarregam aplicações, lembrando que nem todas “são ingénuas, porque algumas vêm com a intenção” de recolha de informação.

“E deve-se também ter contenção na informação que disponibilizamos nas redes sociais. Alguma contenção é bem vinda”, adiantou, explicando que, quando se entra numa rede social, tem de se ter noção da informação que se quer partilhar e também a noção de que, quando se partilha com amigos, essa informação é também analisada por quem gere o serviço rede social.

Depois da polémica que envolveu o Facebook, a rede social admitiu que faz essa análise de dados e registos, e também que cria um perfil dos utilizadores com base nessa informação e partilha-o com entidades parceiras, a quem vai transmitindo informação que muitos utilizadores julgavam ficar no círculo de amigos.

“E, quando estamos a fazer publicações, ou até a pôr um ‘gosto’, tudo isto é analisado e retiradas consequências práticas, que podem ser apenas [mensagens publicitárias de] ‘marketing’ até manipulação”, afirmou, explicando que, sabendo que um utilizador tem certo perfil, a entidade que gere a rede social pode reencaminhar-lhe informação selecionada.

“Tudo isto pode ter uma relevância grande em termos de democracia, porque começamos a limitar a fonte de informação e acabamos por condicionar, por exemplo, a formação da vontade política”, concluiu.

No início de abril, o Facebook admitiu à Comissão Europeia que os dados de pelo menos 2,7 milhões de utilizadores daquela rede social a residir na União Europeia podiam ter sido transmitidos de “maneira inapropriada” à empresa britânica Cambridge Analytica.

O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, revelou que um total de 87 milhões de utilizadores da rede social foram eventualmente afetados, dos quais 2,7 milhões de cidadãos da União Europeia.