O parlamento da Catalunha não aprovou este sábado a investidura do candidato à presidência do Governo regional, Quim Torra, do mesmo partido de Carles Puigdemont — que o tinha indicado na quinta-feira. Quim Torra, do Juntos Pela Catalunha, precisava de maioria absoluta nesta primeira ronda para ser eleito, mas apenas conseguiu 66 dos votos e eram necessários 68 para a maioria absoluta.

Como seria de esperar, Torra teve o apoio do seu partido e da Esquerda Republicana (ERC), mas precisava também do apoio do terceiro partido independentista, a CUP, que já tinha anunciado que se ia abster. E absteve-se. Isto não deverá impedir Quim Torra de ser eleito novo presidente numa segunda ronda, na segunda-feira, quando já só será necessária uma maioria simples.

O parlamento da Catalunha iniciou assim este sábado o processo de investidura do novo candidato à presidência do Governo regional, mas este só estará concluído na segunda-feira. Os resultados deste sábado foram 66 votos a favor, 65 contra e quatro abstenções. No discurso de investidura, Quim Torra começou por deixar “palavras emocionadas” aos políticos catalães que estão presos ou fugidos à justiça espanhola, todos fora do país.

Num discurso maioritariamente feito em catalão, sublinhou que deveria ser Carles Puigdemont, que abdicou da sua candidatura a presidente do governo regional catalão esta quinta-feira, a tomar posse. E acrescentou que assim deverá ser, tão cedo quanto possível: “Terá de ser Puigdemont quem, o mais cedo possível, a fazer o discurso de investidura”.

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Quim Torra também discursou, em breves trechos, em castelhano e em inglês. Falou castelhano para se dirigir ao Rei Filipe VI (“Majestade, acontece que há presos políticos neste país”, disse, para acrescentar: “Majestade, assim não”) e ao Presidente de Governo, Mariano Rajoy (“Sentamo-nos à mesma mesa, o seu governo e o governo da Catalunha? Estamos dispostos a falar amanhã mesmo, sem condições”). E recorreu ao inglês para falar para o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. “A crise catalã não pode continuar nem mais um segundo. O povo catalão, enquanto cidadãos europeus, merecem o apoio e a mediação da comunidade europeia”, disse, em inglês.

Unionistas acusam Torra de “nacionalismo identitário”, independentistas pedem regresso à “unilateralidade”

Depois de uma pausa para almoço, Quim Torra ouviu a resposta de cada uma das bancadas parlamentares ao seu discurso de investidura. Da parte dos unionistas, as respostas foram duras.

A líder do Ciudadanos, partido unionista e o maior no parlamento regional da Catalunha, criticou Quim Torra pelos tweets que este escreveu em 2012 — e pelos quais pediu desculpa esta sexta-feira, após acusações de xenofobia. Imitando Quim Torra no uso do inglês, disse: “Vou encarregar-me pessoalmente de traduzir esses tweets para quena Europa tenham ideia de quem é o candidato à presidência da Catalunha”.

Quim Torra pede desculpa por antigos comentários xenófobos

“Você representa o nacionalismo identitário e excluente. Vocês representa mais achas para a fogueira e zero auto-crítica”, continuou Inés Arrimadas.

Miquel Iceta, líder do Partido Socialista da Catalunha (PSC), também criticou Quim Torra. “Você só se dirigiu aos catalães que apoiam o processo independentista”, disse. “Você está aqui porque decidiram não desobedecer ao Tribunal Constitucional para investir Carles Puigdemont, o que me parece bem, mas não o atribuam à ideia de que existe um Estado opressor”, disse.

Xavier Domènech, do Catalunha Em Comum, braço do Podemos naquela região, pôs em causa a longevidade de um governo liderado de Quim Torra, que não apoia. “O governo que propõe é muito débil. É um governo que tem uma prazo de validade ultrapassado ainda antes de nascer. Estamos habituados a ter presidentes que nem eles próprios sabiam semanas antes que seriam candidatos”, disse, numa farpa dirigida não só a Quim Torra como a Carles Puigdemont, que se tornou presidente da Generalitat em janeiro de 2016, após uma saída conturbada de Artur Mas.

Dos independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), falou Sergi Sabrià, que falou a favor da aprovação de Quim Torra como presidente do governo regional catalão. “Este país precisa de um governo. temos de recuperar as instituições usurpadas com o 155. As instituições catalãs não são de todo as que queremos, mas são as que necessitamos para fazer república”, disse.

Ainda entre os independentistas, da parte da Candidatura de União Popular (CUP), falou Carles Riera. “A vontade do parlamento e do governo estarão limitadas. A luta pela república tem de ser uma estratégia de mobilização civil não violenta. Há que provocar um cenário político que leve as instituições de novo à unilateralidade”, disse.

Quim Torra precisa da extrema-esquerda independentista para ser investido

A investidura de Torra deverá ficar concluída apenas na segunda-feira porque, aí, a abstenção da CUP já não será suficiente para travar a investidura.  Com esta nomeação, os independentistas asseguram a nomeação de um apoiante da sua causa e evitam que sejam marcadas eleições cinco meses depois de terem ganho as últimas, em 21 de dezembro de 2017. O líder independentista Carles Puigdemont, fugido à justiça espanhola, anunciou na quinta-feira, em Berlim, o nome de Quim Torra como sendo o candidato à sua sucessão.

Torra é uma das figuras menos conhecidas dos independentistas catalães, mas em 2015 dirigiu durante vários meses a poderosa associação cívica separatista Omnium Cultural. Este editor, de 55 anos, entrou na política em dezembro passado quando foi eleito deputado regional na lista Juntos pela Catalunha de Carles Puigdemont.

O ex-presidente Carles Puigdemont fugiu à justiça espanhola e aguarda na Alemanha a sua extradição para Espanha, onde é acusado de delitos de rebelião e peculato na organização de um referendo ilegal sobre a autodeterminação da Catalunha, realizado em 1 de outubro de 2017. Os partidos separatistas catalães voltaram a ganhar a maioria no parlamento regional em 21 de dezembro último, mas tiveram até agora dificuldade em eleger um presidente da Generalitat (governo regional) que não estivesse a ser investigado pela Justiça.

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