Uma associação de voluntários do Porto forma cães de assistência para pessoas com deficiência, num processo que começa ao 45º dia de vida dos animais e termina entre os 18 e 24 meses, com a entrega gratuita aos candidatos.

Fundada há 16 anos, a Ânimas – Associação Portuguesa para a Intervenção com Animais de Ajuda Social tem equipa multidisciplinar de voluntários que trabalha para proporcionar a pessoas com deficiência um recurso que aumente o seu nível de independência e de autoestima.

Coordenador dos instrutores, a Sebastião Castro Lemos cabe examinar os pequenos cães — neste caso nove cães de raça Golden Retriever oferecidos pelo criador Carlos Costa, e com 45 a 50 dias de vida — para “verificação do caráter que melhor se ajusta àquilo que vai fazer”, explicou à agência Lusa.

Seguindo as regras, que aconselham dever ser o primeiro teste feito por um instrutor desconhecido dos cães e num local estranho para eles, Sebastião Castro Lemos, um a um, testa as reações à procura de um que “não seja nem muito dominante nem muito submisso”, mas cuja “confiança” transmita “equilíbrio”.

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Feita a escolha, os cães escolhidos para formação continuarão com o criador até aos três meses de vida, aumentando o seu contacto com “pessoas estranhas”, seguindo depois para uma família de acolhimento “que deve ter todas as faixas etárias”, precisou o coordenador da Ânimas.

Enfatizando o “caráter semelhante” das raças a que recorrem (Labrador e Golden Retriever), explicou que “ambos gostam de aprender”, beneficiando ainda do facto de terem “uma mordida suave”, o que facilita a “entrega de objetos sensíveis sem os partir”.

Já com nome atribuído, ao quinto mês, seguem para uma família de acolhimento, como é o caso da Caji, uma cadela de cinco meses, até novembro a cargo de Rita Gigante.

“O nosso papel é ensinar-lhe as regras básicas, sentar, deitar, ficar, basicamente ser obediente, ser uma cadela tranquila”, disse de um trabalho que visa prepará-la para ser uma “cadela de serviço”.

Dia após dia, a cadela vai aprender a “estar em sociedade, a frequentar espaços públicos, a não se assustar com barulhos ou com pessoas, habituando-se a vários tipos de ambiente”, explicou.

Já Benji, um Labrador de 1,5 anos, aprende por estes dias com Abílio Leite a ser um cão de assistência, preparando-se “para todas as situações possíveis que venha a enfrentar junto da família”, num trabalho que coloca ênfase na obrigatoriedade “de ser um cão sossegado que enfrente as várias situações e que as saiba resolver com calma”.

Numa formação “sempre adaptada ao beneficiário final”, o Benji destina-se a uma criança portadora de sintomas do espetro do autismo, a quem vai tentar ajudar a “eliminar comportamentos de fuga, a parar sempre antes de atravessar uma estrada, a eliminar determinadas estereotipias, a ter um sono mais constante, adormecendo com mais facilidade, bem como levar e ir buscar à escola, ajudando na sua integração”.

“Ele só será entregue na fase adulta (entre os 18 e 24 meses), garantindo assim às famílias que não causará problemas”, vincou o instrutor de um trajeto em que a família só “o conhece quando inicia a fase de acoplamento”, numa gestão de expectativas que visa “não aumentar os problemas” a quem já vive em ansiedade.

Paula Sousa, em Braga, desde o início de maio que tem em casa a Sissi, uma cadela de raça Golden Retriever de dois anos, para a ajudar na gestão de “três filhos gémeos multideficientes” e cuja simples presença “mudou a forma de estar dos filhos” e a sua “interação familiar”, depois de também ela ter sido “submetida ao teste final” para avaliar a compatibilidade com o animal.

Apesar do pouco tempo em família, garante que “a Sissi tem correspondido” e que a sua presença “mudou a dinâmica toda da família”.

A presidente da Ânimas, Liliana Sousa, explicou que a formação destes cães custa “cerca de 20 mil euros”, mas que o facto de estes lhes “chegarem gratuitamente”, o trabalho de formação “ser voluntário” e ainda haver o patrocínio para a alimentação da Royal Canin, faz com que possam ser “cedidos gratuitamente”.