O antigo líder do PSD, Marques Mendes, diz que as entrevistas concedidas por Marcelo Rebelo de Sousa (ao Público) e de António Costa (ao Diário de Notícias) passam uma imagem de competição entre os dois e que houve “crispação” por Costa andar “nervoso” com o caso Sócrates. No seu espaço de comentário semanal na SIC, Marques Mendes destaca que Costa teve uma “reação crispada à entrevista do Presidente” quando disse que Marcelo “não envia recados pelos jornais“. Para Marques Mendes, esta é “a segunda vez, no espaço de 15 dias, que o primeiro-ministro se mostra incomodado com uma intervenção do Presidente: primeiro no discurso do 25 de abril, agora sobre a entrevista. “No passado não era regra, não é hábito“.

Mas, afinal, questiona Mendes, “porque o primeiro-ministro se sente crispado, incomodado, nervoso?” Para o antigo líder do PSD essa crispação tem “duas razões: [António Costa] anda incomodado com o caso José Sócrates; e as sondagens, com o PS em queda, ainda que ligeira, há três meses consecutivos”.

Mendes vê António Costa mesmo “muito incomodado” com o assunto Sócrates. O comentador defende que o tema tem de ser discutido politicamente, mas diz ser “vergonhoso” que socialistas se venham demarcar de Sócrates só na altura em que “um cidadão cai em desgraça”. Para o antigo líder do PSD, Sócrates “merece isto”, mas não deixa de destacar que “a maior parte das pessoas que o estão a afastar não o fazem por convicção, fazem por oportunismo, porque se tornou um ativo tóxico“. Além disso, denuncia o comentador, “muitas dessas pessoas foram cúmplices dele“.

Marques Mendes lembrou ainda que, quando era líder da oposição, foi o único a dizer que Sócrates “tinha falhas de carácter” por alturas do caso das irregularidades na licenciatura. Além disso, fez questão de lembrar que, por essa altura, dois seus correlogionários de partido — que acabariam também por ter os seus problemas com a justiça — o criticaram: “Dias Loureiro e Duarte Lima, em vez de criticarem Sócrates, criticaram-me a mim por criticar Sócrates.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Se houver terceira tragédia, povo demite Costa “na hora”

Sobre os incêndios, explorados também nas entrevistas dadas pelo chefe de Governo e pelo chefe de Estado, o antigo líder do PSD afirmou que António Costa não precisa de dizer que se demite em caso de nova tragédia com incêndios, já que, caso voltasse a acontecer, “o povo demitia-o na hora“. Mendes explicou que o Presidente da República revelou que não se recandidatava em caso de uma terceira tragédia para “fazer pressão junto do Governo”.

Marques Mendes diz que as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa dão uma “novidade interessante”: que o Presidente “já decidiu recandidatar-se” . E como já “percebeu que o povo não perdoa”, já antecipou qual seria a sua consequência. Já António Costa, no entender do comentador político, também não sobreviveria politicamente à repetição de uma tragédia como as de 2017: “O Presidente ficava chamuscado, mas o primeiro ministro ficava trocidado, incinerado e, por isso, António Costa quando diz aquela coisa: ‘Não me demito’. Pois não. O povo demitia-o na hora. Porque se houvesse três tragédias, o Governo seria o grande responsável.”

Ainda sobre as entrevistas de Marcelo e Costa, Marques Mendes diz que o Presidente da República e António Costa estiveram, de forma intencional, em “sintonia” sobre o Orçamento com o objetivo de “pressionar o Bloco de Esquerda e o PCP”. Para o comentador, tanto Marcelo como Costa “estão preocupados” e “querem colocar pressão sobre o PCP e o Bloco de Esquerda, em particular o PCP que é o mais renitente”. Isto apesar da aprovação se afigurar pacífica na leitura do comentador: “Julgo que em nenhuma circunstância vai haver um chumbo do Orçamento. Ninguém vai querer o ónus de provocar uma crise política”.

PSD e o diálogo via Whatsapp, OPA à EDP e Manuel Vicente

Marque Mendes disse, ainda, que o PSD está um “bocadinho melhor”, uma vez que “Rio começou frouxo e a dar sensação de muleta do Governo”, mas está “já finalmente a fazer oposição” e com um discurso “eficiente”. Resta saber se “terá tempo para recuperar, 10 ou 11 pontos de desvantagem para o PS”, uma vez que o PSD “não descolou nas sondagens” após a sua chegada ao PSD. Quanto a nova descoordenação no pedido de demissão do ministro da Saúde — em que um deputado e porta-voz do Conselho Estratégico pediu a demissão e Rio disse não ser o seu “estilo” fazê-lo — Marques Mendes voltou a aconselhar Fernando Negrão, o líder da bancada, e Rui Rio a falarem pelo WhatsApp.

Mendes falou ainda da OPA chinesa à EDP, dizendo que “para Portugal é melhor [a EDP] ser controlada por chineses do que por uma empresa europeia”, que podia levar ao desmantelamento da mesma. O antigo líder do PSD criticou ainda as declarações de António Costa sobre o assunto, considerando “imprudente e precipitado” que o primeiro-minsitro tenha falado sobre o assunto já que “o Estado português não é acionista. Logo, não tem que se pronunciar. Ainda por cima antes dos acionistas. O princípio deve ser: à economia o que é da economia”. E acrescenta: “Ele que gosta tanto da expressão à política o que é da política, devia aplicar neste caso. Claro que nós sabemos que o Governo sabia de tudo. Mas devia, ao menos, salvar as aparências.”

E não esqueceu o caso do vice-presidente angolano, Manuel Vicente, cujo processo crime será entregue às autoridades angolanas por decisão, desta semana, do Tribunal da Relação, contrariando a vontade do Ministério Público e do juiz de primeira instância. “Não há uma única prova produzida em julgamento”, afirmou, referindo-se ao caso Fizz — em que está a ser julgado um procurador do Ministério Público acusado de ter sido corrompido por Manuel Vicente, um advogado e o seu representante legal em Portugal.